sexta-feira, 8 de maio de 2020

50 anos de Lei it Be - O ultimo álbum dos Beatles


Em 8 de Maio de 1970, era lançado o que seria o adeus definitivo de uma das maiores e importantes bandas de todos os tempos. Apesar de ter sido o ultimo álbum da banda The Beatles, Let it Be não foi exatamente o ultimo álbum gravado por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr juntos; suas canções haviam sido gravadas antes do álbum Abbey Road, focando num projeto chamado "Get Back", encabeçado por McCartney. Mas devido a vários problemas, desentendimentos e ideias frustrados, o projeto foi arquivado, fazendo a banda partir para o próximo projeto que se tornou o Abbey Road. Após o fim da banda no começo de 1970, tudo que havia restado do antigo projeto "Get Back" foi pego e montado para sair com o nome de Let it Be; juntamente com um filme/documentário de mesmo nome, que mostrava os procedimentos de gravação daquelas canções e um pequeno show da banda sobre o prédio da gravadora. A historia sobre este álbum, suas canções e algumas curiosidades, veremos agora, neste matéria a respeito de seus 50 anos de lançamento.

O pós-White Álbum e o Projeto "Get Back"
No final do ano de 1968, os Beatles não estavam passando pelo melhor momento deles. Apesar do grande sucesso de seu ultimo álbum (The Beatles, mais conhecido como "The White Álbum") e considerado um dos melhores; suas gravações foram cheias de desentendimentos e com um clima tensão entre os membros. Havia um grande clima de individualismo entre todos: Lennon estava curtindo a sua "nova vida" ao lado de sua nova mulher Yoko Ono e focado também em seus álbuns experimentais, Harrison também começou a embarcar em projetos solos, Ringo estava se aventurando no mundo do cinema e McCartney começou a tomar muito os rumos da banda, mas era o único que ainda tentava manter o grupo unido e com o amor a música. De repente, aqueles quatro garotos de Liverpool, que lutavam para ter o seu lugar ao sol; agora era quatro milionários, com egos inflados, tentando fazer valer suas vontades sobre os demais. Sem falar, que a banda ainda tentava lidar com a morte do empresário e amigo de longa data Brian Epstein, que morreu em Agosto de 1967, devido a uma overdose de medicamentos. Além de também ter que lidar com o novo empreendimento multimidia da banda, a Apple Records, fundada e administrada pelos próprios Beatles. Foi então que Paul teve uma ideia para tentar unir o grupo novamente e trazer de volta aquele amor que tinham por tocar juntos: gravar um álbum que fosse uma volta as raízes da banda, sem uso de orquestras ou overdubs, só os quatro gravando juntos; e esse projeto, seria filmado para se tornar num documentário sobre essa volta dos Beatles. Esse projeto foi chamado inicialmente de "Get Back", que significa "Voltar" ou "Volte", além de ser o nome de uma das canções que acabaram entrando no projeto. Além disso, Paul tinha vontade de ver a banda tocando ao vivo em shows novamente (coisa que eles pararam de fazer em meados de 1966, para focar mais nas duas gravações em estúdio); então ele planejou que a banda fizesse uma apresentação surpresa ao vivo, para ser colocada no documentário. Só que essa ideia de tocar ao vivo não agradava muito os outros integrantes da banda, mas mesmo assim, a banda resolveu embarcar nessa ideia. Apesar de tudo, ele entraram em acordo para gravar o álbum, como se fosse ao vivo, da mesma forma que foi feito no primeiro álbum deles, Please Please Me. Para isso, eles chegaram até a fazer uma foto no mesmo local que tiraram a foto para o primeiro álbum, só que agora mais velhos. Essa foto, apesar de não ter sido utilizado para o álbum, chegou a ser usada na coletanea The Beatles - 1967/1970
Primeiro álbum dos Beatles (Please Please Me) e projeto abandonado para a capa do álbum "Get Back"

As gravações começaram no dia 2 de Janeiro de 1969, inicialmente em mono no Twickenham Studios, com tudo sendo documentado para ser lançado mais tarde. Lennon odiava a ideia de ter que chegar aos estúdios as 8 da manhã e ter que demonstrar alegre e satisfação ao gravar e compor. 
Os Beatles no Twickenham Studios
A presença da futura esposa de John, Yoko Ono, acabou se transformando num incomodo para os outros integrantes; principalmente para George, que também não aguentava o domino completo de Paul na banda. Ringo estava lá presente, mas não parecia tão animado como de costume; isso que ele era o Beatle mais bem humorado e engraçado do grupo. Essa rotina se seguiu durante as 3 primeiras semanas de Janeiro daquele ano, até que as gravações foram interrompidas pela saída temporária de George Harrison; o mesmo tinha perdido a paciência com certas coisas e chegou até a dizer que estava fora da banda. Lennon nem se importou muito com isso, chegando até a cogitar chamar Eric Clapton para substituir George; Clapton era muito amigo dos Beatles (principalmente do próprio Harrison), chegando até a participar da canção "While My Guitar Gently Weeps", no White Álbum. Mas Paul não concordou com essa ideia, pois para ele os Beatles sempre eram e sempre serão eles 4. Depois de quase uma semana, Harrison voltou e se acertou com os outros colegas de banda; ele ainda trouxe o tecladista Billy Preston (no qual eles conheceram em Hamburgo), para participar das gravações e tentar trazer mais animo para banda. Após essa breve pausa e retorno de Harrison com Preston; os ensaios passaram a ser em multi-tracks nos estúdios da Apple. Quando os Beatles decidiram montar seu próprio estúdios, 
Billy Preston (1946-2006), tecladista convidado pelos Beatles
eles deram o dinheiro necessário para um "amigo charlatão" de John, chamado Magic Alex, que montasse o melhor estúdio de gravação possível. Porém, quando o produtor dos Beatles, George Martin, e seus auxiliares técnicos foram inspecionar o local, perceberam o desastre que era o aquilo tudo. A mesa de mixagem era feita de uma madeira muito velha e um osciloscópio antigo, e havia sido prometido uma mesa com 72 canais, sendo que só haviam 16 canais; sem falar que o local era muito mal isolado do som, sendo possível ouvir os barulhos da tubulação e do ar condicionado. Mesmo com todos esses problemas, os Beatles estavam dispostos a gravar e ensaiar como se estivessem em casa; para a produção do projeto, ele escolheram Glyn Johns para a função e deixaram George Martin em segundo plano. Isso o deixou um pouco chateado, até porque ele foi o produtor de todos os álbuns da banda até então, e não fez questão da fama por isso. Sem falar que quando a banda começou o projeto, Lennon venho lhe dizer: "Dessa vez, nós queremos um disco honesto e não uma daquelas porcarias que você faz." Anos mais tarde, numa entrevista, Martin disse que engoli aquilo a seco, mas que deu vontade de dizer que todos os outros discos dos Beatles pareciam mais honestos do que esse no momento. Durante todo o mes de Janeiro de 1969, os Beatles ensaiaram e gravaram diversas canções; desde de músicas que entraram em Let It Be, outras que foram para o álbum Abbey Road e varias covers. 
Imagem da banda nos Estúdios da Apple

Além de algumas canções que foram só aparecer nas carreiras solos de cada Beatles; canções como Jealous Guy (John Lennon), All Things Must Pass (George Harrison) e Teddy Boy (Paul McCartney). Dentre todas as músicas que os Beatles ensaiaram durante aqueles mes, eles escolheram 7 para um mini-show que foi feito no telhado dos estúdios da Apple em Saville Row, no dia 30 de Janeiro de 1969. Essa performance surpresa estava sendo gravada para constar no futuro documentário da banda; era a primeira vez que a banda voltava a tocar ao vivo, depois da banda parar com as apresentações e focar mais em gravações no estúdio. No fim das contas, a banda não conseguiu tocar tudo que estava planejado, pois a policia foi acionada nas redondezas, ameaçando prender todos os envolvido por perturbação e causar tumulto; assim eles tiveram que encerrar mais cedo sua apresentação. Aquilo acabou se transformando na ultima performance ao vivo dos Beatles, antes de seu fim em 1970. Das 7 músicas selecionadas, eles tocaram 5, tendo algumas delas tocada mais de uma vez, para ter takes diferentes para se usar no filme. As canções tocadas foram: "Get Back", "Don't Let Me Down", "I've Got a Feeling", "One After 909" e "Dig a Pony", com um bis de "Get Back" no final da apresentação. Durante o mes de Fevereiro daquele ano, o técnico de som Glyn Johns começou a trabalhar nas fitas gravadas pela banda e planejado para sair em Julho de 1969; mas as mixagens foram rejeitadas pela banda e o atual empresário deles, Allan Klein. Com isso, o projeto foi engavetado e eles partiram para outro projeto que se tornou o álbum Abbey Road, lançado em Setembro daquele mesmo ano.
Apresentação da banda no telhado da Apple, em Saville Row

"Get Back" se torna "Let It Be" e o fim dos Beatles
Após o lançamento de Abbey Road, a banda começou a pensar em qual seria o próximo passo; quando resolveram dar prosseguimento para o projeto Get Back. Em Dezembro de 1969, chamaram mais uma vez Glyn Johns para produzir o álbum que sairia junto com filme, que ainda não tinha sido lançado. Novas mixagens foram feitas entre o período de 15 de Dezembro de 1969 até 8 de Janeiro de 1970. Os Beatles se juntaram uma ultima vez para gravações no dia 4 de Janeiro de 1970, com Paul, George e Ringo, pois John já havia deixado a banda naquele momento. Dois meses depois, não estando satisfeitos com os resultados das mixagens, John Lennon pegou as fitas das gravações e deu para o produtor americano Phil Spector retrabalha-las; ele confiou esse trabalho para Phil, por ter produzido o seu recém single lançado "Instant Karma". George Martin já estava cansado das brigas e discussão da banda, que achou anti-profissional continuar trabalhando naquele projeto. Além de fazer a mixagem final do álbum, Phil realizou diversas modificações em algumas músicas. Ele pegou uma Jam Sassion e algumas conversas, transformou na canção "Dig It"; alongou "I me Mine"; desacelerou "Across the Universe"; colocou orquestra e coral em "The Long And Winding Road" e tirou a parte onde Paul fala como um bluesman em "Get Back". Seis faixas do álbum era gravadas ao vivo (sem nenhum overdub ou edições posteriores), sendo 3 delas gravadas na apresentação no telhado na Apple ("Dig a Pony", "I've Got a Feeling" e "One After 909") e as outras 3 gravadas em estúdio ("Two of us", "Dig it" e "Maggie Mae"). Enquanto as canções "For You Blue", "I Me Mine", "Let it Be", "The Long And Winding Road" e "Get Back", apresentam varias edições, tanto na mesa de mixagem até mesmo cortes direto na fita.
Produtor musical Phil Spector
"Across The Universe" foi a ultima musica incluída no álbum, utilizando uma gravação antiga de 1968, e mixada numa velocidade mais lenta e "Don't Let Me Down" que chegou a ser gravada e ensaiada não foi incluída na versão final. Spector remixou tudo que tinha e transformou o projeto Get Back. no álbum Let It Be, sendo lançado em 8 de Maio de 1970, cerca de 1 mes depois que Paul decretou o final da banda. Originalmente, o álbum foi lançado em LP de dupla capa, com um livro cheio de fotos das gravações, sendo substituído por uma versão mais simples meses depois. Totalmente diferente da proposta original, o disco é uma "salada de frutas", uma "colcha de retalhos"; contendo gravações no estúdio da Apple, no show no telhado do estúdio, gravações mais antigas e diversas inserções feitas por Spector. Apesar disso, John Lennon se mostrou muito satisfeito com o trabalho final de Phil. Numa entrevista anos depois do lançamento de Let It Be, ele disse: "Nós demos a ele a pior quantidade de porcarias de gravações ruins, com um sentimento feio nelas, e ele foi capaz de fazer algo bom com aquilo tudo." George também demonstrou uma certa satisfação com o trabalho final do álbum; o mesmo não pode se dizer de Ringo e Paul, ainda mais Paul que ficou completamente descontente com o trabalho de Phil Spector. Principalmente com a canção "The Long And Winding Road", que era para ser uma baladinha romântica simples, e Phil acabou colocando orquestra e coral nela, perdendo sua essência. Na época, Paul tentou fazer de tudo para que o álbum não saísse ou que alterações fossem feitas, mas infelizmente ele não conseguiu fazer nada. O álbum foi considerado muito bom por boa parte da critica e publico, mas não deixou de ter criticas negativas a respeito da qualidade do álbum e seu conteúdo. Muitos enxergaram esse ultimo álbum como uma despedida amarga da banda e um álbum todo remendado de ensaios e gravações de sessões distintas.

Let It Be, o filme
No mesmo dia que o álbum foi lançado, o filme/documentário de mesmo nome foi lançado nos cinemas. Inicialmente, o documentário seria televisionado, mas o projeto acabou migrando para os cinemas, por uma questão mais financeira; pois como os gastos com o projeto foram muito altos, lançar no cinema teria um grande retorno financeiro. O documentario mostra todo o procedimento dos ensaios e gravações canções (desde das que entraram no álbum, até outras que entraram no Abbey Road e canções nunca lançadas) e termina com o pequeno show que os Beatles fizeram no telhado dos estúdios da Apple. Foram cerca de 28 horas de gravação de material audio-visual, sendo primeiramente feito um corte para 210 minutos, mas diminuído depois para 81 minutos. Por ter sido pensado primeiramente para TV, o documentário foi filmado em 16mm; mas teve que ser passado para 35mm quando foi passado para os cinemas. Isso acabou prejudicando um pouco a qualidade do filme, ficando meio embaçado e obscuro. O que era para ser um documentário sobre a volta as raízes da banda e todo o processo criativo de fazer um álbum, acabou se transformando no filme sobre os desentendimentos dos integrantes e o final triste da banda. O filme foi dirigido por Michael Lindsay-Hoog, que já havia dirigido videoclipes da banda, como "Rain", "Paperback Writer", "Hey Jude" e "Revolution". O filme ainda chegou a ganhar o Oscar de Melhor Trilha Sonora em 1970 e teve uma indicação ao Grammy em 1971.


Let It Be...Naked, o álbum como deveria ser
Quando Lennon deu as fitas de todas as gravações do projeto Get Back, ele não teve a autorização de McCarteny para isso, e o mesmo sempre demonstrou sua grande insatisfação e descontentamento com o produto final que se tornou Let It Be. Ele tentou barrar o lançamento do álbum ou alterar tudo que estava errado, segundo sua visão, mas nada pode ser feito. Até que no começo dos anos 2000, Paul teve a oportunidade de mexer no álbum e lança-lo devidamente como queria. Supervisionando o projeto e com a aprovação de Ringo Starr e George Harrison (antes de sua morte em Novembro de 2001), o álbum chamado Let It Be...Naked, foi lançado em 17 de Novembro de 2003. O álbum consiste em toda uma nova mixagem feita com a visão que Paul McCartneu tinha no projeto original: uma volta ao rock clássico do começo dos Beatles, sem overudubs, orquestras ou qualquer outra adição; uma sonoridade nua e crua no álbum. A ordem das canções foi refeita, as canções "Dig It" e "Maggie Mae" foram retiradas e incluída a canção "Don't Let Me Down", e principalmente a canção "The Long And Winding Road" estava do jeito que Paul queria, sem orquestra e coral. A nova versão vinha com um disco extra, chamado "Fly on the Wall", onde contém diversos audios de diálogos e pequenos trechos de canções dos Beatles. O álbum teve uma recepção bem razoável, nada comparado ao álbum original, mas agora Paul estava contente por ter o álbum da maneira que ele havia imaginado tempos atrás.

Faixa a Faixa

Two of Us
Canção que abre o álbum, "Two of Us" foi composta por Paul, mas creditada como composição de Lennon/McCartney. Inicialmente chamada de "On Our Way Home", a canção aparentava ser algo referente a velha amizade entre Paul e John, mas na verdade tem haver com o relacionamento entre Paul e Linda Eastman, sua namorada e futura esposa. A primeira vez que a música foi ensaiada, ela tinha uma pegada mais Rock, rápida e com uma batida forte; essa versão pode ser vista em certo momento do documentário. A canção foi perdendo sua inclinação para o Rock, assim que Paul começou a retrabalha-la, fazendo ficar mais leve, introspectivo e usando uma levada de violão no lugar das guitarras. Desde sua primeira vez concebida durante os ensaios, John e Paul cantam boa parte dela em dueto, algo que fazia tempo que eles não fazia em suas canções. Os Beatles tocaram uma versão terminada desta canção ao vivo no dia 31 de Janeiro de 1969 nos estúdios da Apple, essa performance também se encontra no documentário. Na canção, John e Paul tocam violão, George usa uma guitarra Telecaster para fazer a linha do contra-baixo e Ringo usa uma batida mais leve na bateria. No começo da canção, é colocado uma fala de John que diz: "'I dig a Pygmy', by Charles Hawtrey and the Deaf Aids...Phase one, in which Doris gets her Oats!". John cita o musico e comediante Charles Hawtrey e Deaf Aids era o apelido que Lennon dava a seus amplificadores. Essa parte foi retirada da versão Naked do álbum, além de ser a quinta canção desse álbum.




Dig a Pony
Umas das poucas contribuições de John para esse trabalho, "Dig a Pony" foi uma das primeira músicas a ser gravada nos estúdios da Apple e a penúltima executada durante o show no telhado dos estúdios. Escrita primeiramente com o nome de "All I Want Is You", a letra é cheia de versos estranhos e rimas sem sentindo, culminando no refrão "All i want is you", dedicado a Yoko Ono, sua futura esposa. Posteriormente, Lennon viria a comentar que aquela canção seria "mais um pedaço de lixo que havia escrevido"; embora o mesmo já tenha demonstrado descontentamento com outras diversas canções que escreveu. A música também chegou a ter o nome provisório de "Con a Lowry" (provavelmente uma referencia a um tipo de órgão usando nos estúdios), mas no final a canção ficou com o nome de "Dig a Pony"; em copias americanas, a canção ficou com o nome de "I Dig a Pony". Na versão original do álbum, a música tem um começo falso, com Ringo gritando "Hold It!" para os outros membros, pois ele estava segurando um cigarro e estava com apenas uma baqueta na mão. Em uma versão encontrada no "Anthology 3", Paul canta o versão "All i want is..." no começo e no final da canção; mas essa parte foi cortada tanto da versão original do álbum quanto na versão Naked. Ela continuo sendo a segunda canção da versão Naked, mas não tem o falso começo da versão original do álbum.




Across The Universe
Outra composição de Lennon, "Across The Universe" começou a ser trabalha bem antes do projeto "Get Back" ser planejado, mais especificamente em Fevereiro de 1968. Entre os dias 3 e 11 de Fevereiro daquele ano, os Beatles trabalharam em "Across The Universe", "Hey Bulldog", "Lady Madonna" e "The Inner Light" para usar alguma delas como single. A ideia base de "Across The Universe" venho depois de uma das varias viagem de Lennon a Índia para meditação; ele tomou emprestado a expressão que os discípulos de Maharishi usavam frequentemente; "Jai Guru Deva. Om", que significa "Vida longa, guru Dev." Além de contar com trechos que diz "Thoughts meander like a restless wind inside a letter Box/ They tumble blindly as they make their way across the universe", que traduzindo significa "Pensamentos se movem como um vento incansável dentro de uma caixa de correio/ Eles tropeçam cegamente enquanto fazem seu caminho pelo universo". Essa parte da canção, remete as cartas que Yoko Ono enviava pelo correio para John, antes mesmo dele se separar de sua esposa Cynthia Powell. A canção básica foi gravada em 8 tomadas entre os dias 4 e 8 de Fevereiro, mas John não estava satisfeito com nenhuma delas. Paul chegou até a convencer ele de chamar duas fãs que estavam na porta do estúdio, para fazer backing vocals no refrão da música; essa duas garotas eram Gayleen Pease e a brasileira Lizzie Bravo. No fim das contas, a música foi mixada em mono e colocada de lado; enquanto "Hey Bulldog" foi parar na trilha sonora da animação "Yellow Submarine", "Lady Madonna" e "The Inner Light" foram lançados como single. Naquelas sessões de gravação, estava presente o ator e comediante Spike Milligan (convidado por um dos Beatles), que gostou da canção "Across the Universe" e convidou a banda para fazer parte de um álbum beneficente que estava sendo organizado pela World Wide Fund for Nature. Os Beatles concordaram e um tempo depois, a canção foi mixada em estéreo pela primeira vez por George Martin, onde foi acrescentado efeitos sonoras de pássaros no começo e no fim da canção, além de ter sido um pouco acelerada. A canção foi oficialmente lançado no álbum "No One's Gonna Change Our World", no dia 12 de Dezembro de 1969. Apesar de nunca estar totalmente satisfeito com a canção, John chegou a ensaiar ela durante as gravações de "Let it Be". A canção ganhou uma nova mixagem por Glyn Johns, que deu tratamento mais acustico para a canção e desacelerou a canção; mas foi a versão de Phil Spector que entrou na versão final do álbum, onde adicionou orquestração e vocalizações. Apenas a versão presente no álbum "No One's Gonna Change Our World" conta com o vocal das duas fãs dos Beatles, e a versão "Naked" é mais simples, sem orquestra e vocalizações, sendo a decima música do álbum. "Across The Universe" também se tornou um filme/musical, contendo outras canções dos Beatles e retratando a época da Beatlemania; além dela também ter sido a primeira canção transmitida para o espaço, para homenagear o aniversario da NASA.






I Me Mine
Inspirado em suas meditações e o desprendimento do ego que o hinduísmo pregava, George Harrison escreveu a canção "I Me Mine" (algo parecido com "Eu sou mais eu"), falando sobre o egoísmo e o individualismo das pessoas. Essa canção, acaba refletindo muito o que George via na banda, uma briga de egos entre Paul e John para saber quem toma o rumo da banda e com faz melhor em suas composições. Durante o documentário, Harrison mostrou a canção a Ringo pela primeira vez, e descreve ela como um "valsa pesada"; tendo umas partes mais lentas e calmas como uma valsa, indo para um refrão mais pesado e acelerado num estilo Hard Rock. Numa das primeiras vezes que a banda ensaiou a canção; Harrison, McCartney e Ringo tocaram a canção, enquanto Lennon e Yoko ficaram dançando, isso é mostrado em determinado momento do documentário. Nas ultimas sessões de gravação entre Janeiro e Fevereiro de 1970, "I Me Mine" foi uma das ultimas canções gravadas pela banda; com George cantando e tocando violão, guitarra e orgão; Paul com acompanhamento vocal, baixo e orgão; e Ringo na Bateria. John não participou dessa gravação, pois ele já estava fora da banda naquela época. A canção original, tinha apenas 1:34, mas foi alongada por Phil Spector que repetiu o refrão mais uma vez e o segundo verso da canção; além de ter feito alguns overdubs com gravações posteriores de bateria e orquestra. Essa versão foi incluída no álbum original, na versão Naked (sendo a nona canção) foi retirado a parte com orquestra e a versão reduzida da canção é vista no Anthology 3. Uma curiosidade, é que a autobiografia que Harrison lançou em 1980, é intitulada "I Me Mine".






Dig It
Essa é uma das poucas canções dos Beatles, que é creditado por todos os membros. "Dig It" é uma jam session que foi gravada entre os dias 24 a 29 de Janeiro de 1969, sendo a gravação do dia 26 a usada na versão final do álbum. Essa sessão constava numa gravação de 12 minutos, com os Beatles improvisando algumas partes da canção. John canta varias vezes o verso "Like a Rolling Stone" (referencia a uma canção de Bob Dylan), seguindo da expressão "Dig It" (uma giria bastante usada na época, que significa algo como "Sacou?"), sendo repetida varias vezes. Além de ter tanto John citando diversas personalidades e instituições famosas: "FBI, CIA, BBC, BB King, Doris Day e Matt Busby". A canção termina com fade in, enquanto entra uma fala em falsete de John: "That was 'Can You Dig It?' by Georgie Wood/ And now we'd like to do 'Hark, the Angel Come'". Inicialmente a canção se chamaria "Can You Dig It"; Georgie Wood era um anão que fazia apresentações vestido de criança, com uma voz final; e "Hark, the Angel Come" era uma forma de fazer uma transição para a música seguinte que era "Let It Be", que tinha um lado meio religioso. Glyn Johns chegou a fazer uma primeira mixagem que tinha em torno de 3:59, mas depois Phil Spector fez um corte e deixou a canção com apenas 50 segundos. A canção não consta na versão Naked, mas está no álbum extra que vem com ele.


Let It Be
Paul McCartney estava passando por períodos difíceis entre o lançamento do White Álbum e o começo das gravações do projeto Get Back; as constantes preocupações com os rumos da banda, o fazia beber muito e ter muitas noites mal dormidas. Até que em uma dessas noites, ele acabou sonhando com sua mãe, que havia falecia por causa de um cancer, quando ele tinha apenas 14 anos. Paul diz que aquilo foi muito reconfortante para si, pois já fazia mais de 10 anos desde sua morte. Ela pareceu para Paul dizendo coisas como "Tudo ficará bem, não se preocupe, pois tudo se acertará". Paul não tem total certa, mas ele teve a impressão de que ela falou "Let It Be" (Deixe estar); e com isso tudo, Paul se inspirou para escrever a canção que depois daria nome ao ultimo álbum da banda. A canção, acabou pendendo um pouco para um lado meio religioso; com versos como "Mother Mary comes to me", que pode ser interpretado como "Ave Maria vem até mim". Na verdade, "Mother Mary" se refere a Mary McCartney, mãe de Paul. Ele diz que não se importa das pessoas levarem a canção mais para esse lado e que elas tornam isso algo para alimentar sua fé. A banda trabalhou bastante na canção entre os dias 26 e 27 de Janeiro de 1969, tendo cerca de 20 takes diferentes em cada dia. Ela foi um pouco deixada de lado nos dias subsequentes, mas voltou a ser ensaiada no dia 31 de Janeiro, com Paul no piano, John no baixo, George na guitarra, Ringo na bateria e Billy Preston no orgão; esse ensaio consta no filme. A canção teve diversas versões e diversos acrescimos na pós-produção da canção. George Martin fez arranjos de orquestra, Harrison executou duas versões diferentes do solo, uma em 30 de Abril de 1969 e outra em 4 de Janeiro de 1970 e foi colocado um vocal de Linda McCartney. Na versão final do álbum, Phil Spector usou o solo de Harrison feito no dia 4 de Abril, sincronizado com orgão e orquestra, além de ter adicionado um efeito de eco no chimbal da bateria e alongando a canção repetindo uma parte do refrão. Antes do álbum ser lançado, os Beatles lançaram um single com "Let it Be" sendo lado A e "You Know My Name (Look up the Number)" sendo lado B, no dia 6 de Março de 1970. Essa versão, usava o solo de Harrison feito em 30 de Abril e o coral de Linda McCartney. Na versão Naked, ela é a ultima canção (decima primeira) e contém uma versão mais próxima da lançada como single; agradando até mesmo Ringo, que não havia gostado do tratamento que a canção teve por Spector. Uma curiosidade, é que a cantora Aretha Franklin gravou a canção, junto com uma cover de "Eleanor Rigby", no álbum "This Girl's In Love With You"; lançado em Janeiro de 1970, um pouco antes dos Beatles lançarem ela pela primeira vez.






Maggie Mae
"Maggie Mae" (ou também "Maggie May") é uma canção folclórica de Liverpool, que conta a historia de uma prostituta que cometia furtos, até um dia ser pega roubando um marinheiro. A canção tem seu surgimento no final do seculo XIV, mas seus primeiros registros oficiais em gravação, são datados do final dos anos de 1950. Essa foi uma das primeiras músicas que a mãe de John, Julia Lennon, ensinou a tocar no banjo. Os Beatles costumavam tocar essa canção no começa da carreira, e durante algumas sessões de ensaio do projeto "Get Back", eles tocaram algumas vezes essa canção. Segundo John, era para a versão ser mais longa no álbum, mas ela acabou ficando apenas com 40 segundos. Essa canção ficou de fora da versão Naked lançado posteriormente.



I've Got a Feeling
A canção é uma mistura de letras distintas que Paul e John escrevera em ocasiões diferentes, tendo sentimentos diferentes. Primeiro temos a música "I've Got a Feeling" escrita por Paul, com um ar mais otimista, que é direcionado a sua futura esposa Linda Eastman; enquanto temos a música "Everybody Had a Hard Year" de John, que é mais reflexível e reflete alguns momentos complicados na vida de Lennon. Ele até brinca com os outros integrantes dizendo que escreveu a letra na noite passada, sendo que existia uma gravação dele em video em Dezembro de 1968, tocando essa canção. Eles juntaram as duas canções e ainda adicionaram um riff de uma canção inacabada de John, chamada "Watching Rainbows". Na versão Naked, ela é a sexta canção e tem pouquíssimas diferenças com a lançada originalmente em 1970.




One After 909
Apesar de ter sido lançado no ultimo álbum da banda, "One After 909" é uma canção escrita por Paul e John em meados de 1957, quando eles se conheceram e começaram a escrever as primeiras canções juntos. Ela é sobre um mal entendido acerca da numeração de um certo trem a ser pego por duas pessoas. O titulo da canção pode ser tanto interpretado como "o trem após o 909", ou seja, o 910; como também pode ser interpretado como "o trem que parte após as 9:09". Essas pegadinhas linguísticas era muito comum nas primeiras composições entre os dois. A canção chegou a ser gravada pela primeira vez, durante algumas sessões de gravações em 5 de Março de 1963, juntamente com a produção dos singles "From Me To You" e "Thank You Girl"; mas ficaram descontentes com os resultados dessa canção e a deixaram de lado. Uma dessas sessões chegou a ser lançada posteriormente em 1995, na coletanea Anthology 1. Os Beatles só foram voltar a trabalhar na canção, apenas em 1969, durante as gravações do projeto "Get Back" e tocada durante o show no telhado da Apple. As versões usadas nas duas versões do álbum, são tiradas diretamente de dois takes gravados durante o show, sendo o da versão original com Lennon cantando um verso a mais após o final da canção; no Naked essa parte não tem e ela é a sétima canção. Em uma entrevista em 1980, Lennon disse que queria escrever uma canção que teria haver com ferrovia e sempre tinha alguma ligação com o numero 9. Paul dizia que aquela não era a melhor das canções do começo da banda, mas que ela trazia boas lembranças do começo da banda.






The Long And Widing Road
Paul teve as primeiras ideias para "The Long And Widing Road" inspirada numa das suas primeiras visitas a sua fazenda High Park, perto de Campbeltown, na Escócia. Ele tinha a visão de uma longa e tortuosa estrada que se estendia entre as remotas montanhas e lago daqueles arredores; era a estrada B842 com mais de quarenta quilómetros de curvas e desvios que passam pela costa leste de Kintyre até Campbeltown. McCartney em sua composição, quis fazer um paralelo entre aquela longa e tortuosa estrada, com o período turbulento que estava passando dentro dos Beatles. A canção em sua essência é uma balada bem simples, com ar bem triste e melancólico, bem do jeito que Paul queria. De volta a Londres, ele chegou a gravar uma demo dessa canção durante as gravações do White Álbum e oferecido para Tom Jones grava-la, mas com a condição de lança-la como um single. Infelizmente, Tom Jones teve que recusar o pedido de Paul, pois ele já estava com outro single programado para ser lançado naquela época. Durante as sessões do projeto "Get Back", a banda fez algumas gravações nos dias 26 e em  31 de Janeiro de 1969; na formação da faixa era Paul no vocal e piano, John no baixo, George na guitarra, Ringo na bateria e Billy Preston no piano. Lennon que era o guitarrista rítmico da banda, tocava baixo ocasionalmente e acabou cometendo alguns erros durante essas gravações. Ela acabou sendo inadequada para ser tocado durante o show no telhado da Apple, então não foi tão trabalhada quanto as outras canções programadas para serem tocadas e depois teve sua gravação muito corrida. Durante as primeiras mixagens, Glyn Johns utilizou um take do dia 26 de Janeiro, uma versão dessa mixagem pode ser encontrado no Anthology 3, até com os erros de Lennon. Quando Lennon e o gerente dos Beatles, Allen Klein, entregaram as fitas do projeto Get Back para Phil Spector retrabalha-las, "The Long And Widing Road" foi uma das faixas que ele mais mexeu e que causou mais discórdia entre todos. Em sua versão, Spector colocou uma orquestra e um coral que compunha 18 violinos, 4 violas, 4 violoncelos, harpa, 3 trompetes, 3 trombones, 2 guitarras e 14 vozes femininas; além de dar um jeito de camuflar os erros de Lennon na canção. Ringo estava presente nessa sessão, para fazer uma nova gravação da bateria e ajudar a acompanhar os outros músicos. Conhecido por seu egocentrismo e comportamentos bem fora do normal, Spector estava inquieto e com o humor peculiar no dia dessa gravação, fazendo até com que Ringo e o maestro daquela orquestra perdesse a cabeça e quase desistissem de fazer suas devidas gravações.Após o lançamento do álbum, um single foi lançado em 11 de Abril de 1970 nos Estados Unidos, com "The Long And Widing Road" sendo lado A e "For You Blue" como lado B. Esse single, foi o ultimo lançado pela banda, vendando 1,2 milhões de cópias , permanecendo varias semanas nas paradas de sucesso. Sua canção, acabou sendo motivo de varias brigas judiciais entre Paul, os outros membros da banda, o gerente Allen Klein e o produtor Phil Spector. O mesmo disse que havia mandado uma carta para cada membro da banda, dizendo estar disposto a fazer qualquer alteração que quisessem, e ele recebeu uma resposta positiva de todos. Paul argumentou que só aceitou aquela versão, para não contrariar o restante da banda, mas que uma semana depois já estava mostrando seu desgosto com o álbum, e principalmente com a canção "The Long And Widing Road". No fim das contas, Paul conseguiu lançar a canção do jeito que queria na versão Naked de 2003; ela é quarta canção dessa versão do álbum e não contem nada da orquestra e coral da versão antiga, mantendo a simplicidade que Paul havia planejado para ela.





For You Blue
A canção foi escrita por Harrison, como uma canção de amor para sua esposa, Pattie Boyd; ela foi usada como lado B do ultimo single lançado pela banda no dia 11 de Abril de 1970, juntamente com "The Long And Widing Road" sendo lado A. Esse single foi lançado nos Estados Unidos e outros países, menos no Reino Unido. A canção é um blues simples de doze compassos, que Harrison composto durante sua estadia com Bob Dylan e sua banda nos Estados Unidos no final de 1968. Ele apresentou os primeiros rascunhos da música para a banda no dia 7 de Janeiro de 1969, mas eles ensaiaram a canção com pouco entusiasmo, voltando a trabalhar na música no dia 9 de Janeiro, quando Harrison completou a letra. Ele já se demonstrava bem insatisfeito naquele momento, por muita das suas composições não serem escolhidas e ensaiadas pela banda, além de não gostar do pouco interesse de John pelo projeto e deixar Paul tomar conta de tudo. A canção só voltou a ser ensaiada no dia 25 de Janeiro, quando George voltou da sua saída temporária da banda e sugeriu um arranjo mais acústico para a canção. Naquele dia, eles fizeram 6 takes simples e rápidos da canção, sendo o ultimo take escolhido para ser trabalhado. Na composição da gravação, George cantou e tocou violão, John usou um Lap Steel Guitar (uma espécie de guitarra havaiana), Paul tocou piano e baixo e Ringo fez seu trabalho na bateria como sempre. Nas imagens do documentário não ficam bem claras, mas parece que John usa um isqueiro ou um cartucho de espingarda para fazer os slides no Lap Steel Guitar; enquanto isso, Paul colocou uma folha de papel entre as cordas do piano para dar um som distorcido e metálico para a canção. Harrison parecia bem animado com esses ensaios; durante as gravações ele dizia coisas como: "Go, Johnny, Go" (referencia a canção de Chuck Berry), "King of Slide Guitar" (em referencia a John tocando o Lap Steel Guitar), "Elmore James got nothing on this , baby". Inicialmente, Harrison nomeou a canção de "George's Blue (Because You're Sweet And Lovely)", mas o titulo foi mudado para "For You Blue" durante as mixagens de 10 de Março a 28 de Maio de 1969. Na versão feita por Phil Spector, ele acrescentou no começo da música um audio de Lennon falando: "The queen says no to pot-smoking FBI members."(A rainha disse não para os membros do FBI fumadores de maconha). Na versão lançada em 2003,ela é a terceira faixa e não tem esse audio introdutório original.





Get Back
Uma canção que nasceu como um improviso durante o projeto de mesmo nome, e teve toda sua evolução documentada durante seu período de composição. Tudo começa no dia 7 de Janeiro de 1969, quando Paul repetidamente toca no baixo uma canção que havia ouvido alguns dias antes, chamada "I'm a Tiger" da cantora britânica Lulu. Ele resolve acelerar a canção, fazendo com que o baixo lembrasse o galopar de cavalos, enquanto George improvisava um riff de guitarra em cima daquela base e Paul cantarola uma melodia em conjunto. Nos dias que se seguiram, Paul e os Beatles continuaram a trabalhar na música, agora com Paul cantando frases e palavras soltar durante a base da canção. Saíam coisas como: "Arizona", "California", "Moicanos", "Paquistanês". A canção foi tomando forma, depois de algumas noticias que estavam sendo veiculas ultimamente sobre o governo ingles e imigrantes no país. Tudo porque naquela época, muitos imigrantes (principalmente paquistaneses) estavam indo trabalhar na Inglaterra, fazendo assim com que as pessoas tivessem uma visão de que essas pessoas estavam tomando o emprego dos cidadãos ingleses. Então o governo quis criar uma legislação que diminuísse o fluxo de imigrantes no país. Contundo, um membro do parlamento chamado Enorch Powell, quis ser mais radical e sugeriu uma campanha para repatriar os cidadãos provenientes de colonias ou ex-colonias. Basicamente, ele queria expulsar toda e qualquer pessoa da Inglaterra que não fosse ingles de nascença. Isso acabou gerando muita discussão e esse parlamentar ficou taxado de racista e xenofóbico. Com tudo isso, os Beatles começaram a trabalhar na canção, que em sua letra, seria um protesto contra essas medidas e o preconceito gerado. Ela seria uma ironia a respeito das pessoas que acham que os paquistaneses e outros imigrantes, estariam roubando os seus lugares e desejavam que eles voltassem para seus lugares de origem. John se interessou bastante pela canção e começou a ajudar na composição, recebendo o nome provisório de "No Pakistanis". No fim das contas, essa temática acabou sendo abandonada pela banda, por receio das pessoas não entenderem a ironia da canção.Tanto que muitas fitas com as primeiras gravações dessa canção, chegaram não-oficialmente até algumas pessoas , fazendo Paul e os outros membros esclarecer os maus entendidos da canção. Depois de fazer as devidas alterações na música, os Beatles ensaiaram e gravaram varios takes nos dias 23, 27 e 28 de Janeiro de 1969, tendo o tecladista Billy Preston presente nessas gravações. A canção esteve presente no show no telhado da Apple, sendo a primeira canção a ser tocada e também encerrando o show. Devido a policia ter sido acionada para parar o show, Paul decidiu fazer uma brincadeira na segunda vez que tocaram a canção, falando proximo do final dela:"Voce brincou nos telhados novamente, e isso não é bom, e voce sabe que sua mãe não gosta disso...Ela vai ficar brava, vai prender você. Volte!". Ao terminar sua apresentação, Paul diz "Thanks Mo!", agradecendo a esposa de Ringo, Maureen Cox; e John acrescenta brincando "Gostaria de agradecer a todos em nome da banda, e espero tenhamos passando na audição." A canção foi lançada a primeira vez como single no dia 11 de Abril de 1969 sendo lado A e tendo "Don't Let Me Down" como lado B. Essa versão é diferente das que está presente no álbum (tanto o original, quando o Naked); essa versão tem 3:15 e tem uma parte instrumental a mais na canção, com Paul falando como um bluesman. A versão de Spector, começa com conversar tiradas de um dos ensaios da canção e corta essa parte final, colocando o dialogo final dito no final do show no telhado. E a versão Naked, é a mais curta delas, com 2:34, começando igual a versão de single, mas terminando igual a do álbum original, mas sem as conversas no final. Existem gravações da canção com George e John fazendo o vocal principal da canção. Segundo George e John, Paul cantava o refrão "Get back to where you once belong" (Volte para o lugar de onde venho), olhando fixamente para Yoko Ono; como se aquilo fosse direcionado para ela.





Don't Let Me Down
Está canção, apesar de ter sido bastante ensaiada e tocada durante o show no telhado da Apple, acabou não sendo colocado na versão final do álbum original, sendo incluída apenas na versão Naked. "Don't Let Me Down" é uma composição de Lennon, inspirada por sua futura esposa, Yoko Ono; onde ele reflete seu receio de ser decepcionado por algo ou alguém. Ao olhar de Paul, isso trata-se de um pedido de ajuda dele para Yoko, dizendo estar perdendo a linha, expondo suas verdades e com medo de ser decepcionado. John até pediu para Ringo, que batesse nos pratos com bastante força, para que criasse coragem de gritar os versos da canção. Paul também achava essa canção, com versos cafonas, mas essa era a ideia que John tinha e achava que deveria ser assim. Os Beatles tocaram a canção duas vezes durante o show no telhado da gravadora; uma delas foi para o filme e a outra virou um videoclipe futuramente. A canção foi lançada pela primeira vez em 11 de Abril de 1969, como lado B do single "Get Back". Tendo uma capa simples, o single foi o primeira e único da banda a ter creditado um artista participante; nessa caso, era o tecladista Billy Preston. A versão desse single, foi tirada de uma gravação feita no dia 28 de Janeiro de 1969. No fim das contas, a canção não foi colocado na versão final do álbum, mixada por Phil Spector; ela só foi ser incluída na versão lançada por Paul em 2003, sendo a faixa de numero 8 e entrando no lugar das faixas "Dig It" e "Maggie Mae". Os singles de "Get Back" e "Don't Let Me Down" acabaram sendo lançados posteriormente em compilados da banda em anos posteriores.





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