domingo, 6 de junho de 2021

Cabeça Dinossauro: Um disco agressivo, direto e mais importante dos Titãs

Formada em 1982, em São Paulo, inicialmente com 9 integrantes e com o nome de Titãs do Iê-Iê; os Titãs são uma das bandas mais importantes e bem-sucedidas do rock brasileiro. Passando por altos e baixos, reformulações na formação da banda e estilo, a banda dura até hoje com 3 integrantes, fazendo shows e lançado sucessos. Dentre os seus diversos álbuns, um dos mais importantes, senão o mais importante de todos, está o Cabeça Dinossauro. Lançado em 1986, o álbum foi responsável por definir o estilo da banda, o direcionamento musical e a torna-los uma grande banda popular pelo Brasil. Uma disco muito importante para a banda, para o cenário musical brasileiro e também importante para mim. Lembro que em 2006, estava descobrindo mais a respeito da banda, e um dia estava no Supermercado Big com meu pai, e passamos pela sessão de DVDs e CDs. Enquanto dava uma olhada por lá, enxerguei o CD do Cabeça Dinossauro na prateleira por apenas 9,90; perguntei para o meu pai se poderia comprar e ele deixou. Quando escutei, fiquei maravilhado com ele, não passei uma musica se quer, cada canção era única. Hoje eu considero ele, um dos meus álbuns favoritos, senão o mais favorito de todos. Esse ano(2021), ele completa 35 anos e para celebrar, trarei uma matéria sobre o álbum; tudo que a banda passou antes da gravação, seu processo de gravação e lançamento e curiosidades sobre as faixas.


O Caminho percorrido pela banda, até esse momento


Pena Schmidt, produtor do primeiro álbum
e coprodutor de Cabeça Dinossauro


A banda havia assinado um contrato de 3 discos com a gravadora WEA (Warner Music) em 1984, e antes de gravar o primeiro disco, o vocalista Ciro Pessoa decidiu sair da banda; assim, fazendo a banda ficar com 8 integrantes. O primeiro álbum intitulado "Titãs", foi produzido por Pena Schmidt e lançado em 22 de Agosto de 1984. Apesar de ter emplacado os hits "Sonífera Ilha" e "Toda Cor", e ter levado a banda a se apresentar nos principais palcos de programas de TV, o álbum teve uma vendagem baixa, nem chegando a 50 mil copias. Até Agosto de 1997, o álbum tinha vendido 109 mil copias, a pior vendagem da banda até então. Já em Junho de 1985, a banda lançou o álbum "Televisão", produzindo por Lulu Santos e o primeiro com o baterista Charles Gavin integrando a banda (ele havia entrado no lugar do baterista Andre Jung). Levando o nome do álbum ao pé da letra, a ideia era que cada musica tive um tema e um gênero distinto, como se fossem diversos canais de TV. Apesar de bem elogiado pela critica, teve uma vendagem muito baixa de 25 mil copias e considerado um relativo fracasso. A banda tinha apenas mais um disco no contrato com a WEA, então se ele disco não vendesse bem, eles com certeza teriam seu contrato com a gravadora encerrado. Para pior a situação da banda, em Novembro de 1985, os integrantes Tony Bellotto (guitarrista) e Arnaldo Antunes (vocalista), haviam sido presos por porte  e trafico de heroína. Bellotto foi liberado sobre pagamento de fiança, já Arnaldo permaneceu atrás das grades por mais tempo, liberado um mês depois. Isso acabou manchando um pouco a reputação dos Titãs, que apesar do visual meio diferentes dos integrantes e do seu som, eram vistos como "bons rapazes". Por decorrência disso, vários dos seus shows e aparições em programas de TV, haviam sido cancelados, pois quem iria querer uma banda com integrantes que foram presos. Sem falar, que a banda estava tendo uma dificuldade de se encontrar musicalmente; seus álbuns não soavam igual a como eles soavam nos palcos ao vivo. Essa crise toda, acabou sendo inspirados para a banda, que juntou todas as forças e esperanças para gravar um álbum que conseguisse mostrar a verdadeira identidade musical da banda e que fosse feito da maneira que queriam.

Produção e conceito


Liminha, produtor do Cabeça Dinossauro
Em Fevereiro de 1986, antes de um show em São Paulo, o vocalista Branco Mello havia antecipado ao Jornal "O Estado de São Paulo"; que o próximo álbum da banda teria um rock mais pesado, uma sonoridade mais seca e crua, algo mais próximo do Punk Rock. Mas essa decisão e mudanças não vieram do nada, já era algo que estava presente na banda, mas ainda não tinha colocado em pratica. A banda já havia encontrado o seu tipo de som nos palcos, mas não conseguia transpor isso em estúdios, nos seus discos. Acabavam sempre tentando seguir as tendências da indústria fonográfica, atrás de um som comercial, mas acabavam perdendo um pouco a autenticidade. Apesar de banda sempre ter uma grande diversidade em seu som, pegando inspirações no Rock, Reggae, Funk, Punk e até ritmos brasileiros. O que estava planejado para este álbum, venho muito inspirado em algumas canções do álbum "Televisão": canções como "Pavimentação", "Autonomia", "Massacre" e a própria faixa titulo do álbum, apontaram a direção que a banda queria tomar. Pena Schmidt que havia sido produtor do primeiro álbum da banda, agora estava coproduzindo; a produção geral do novo álbum ficou a cargo de Liminha, ex-baixista do grupo Os Mutantes e era diretor artístico da WEA naquela época, o que facilitou a aproximação da banda com o produtor. Liminha já tinha vontade de trabalhar com a banda, apesar de ter descobrido que alguns dos integrantes haviam falado mal dele, o que depois foi explicado e considerado um grande mal entendido. Sergio e Branco, tinham falado o como os álbuns que Liminha produzia, eram muito a sua cara, sendo mais um álbuns de produtor, do que do próprio artista, o que deixava o som meio plastificado e enlatado. Apesar do entrosamento da banda com o produtor, alguns atritos aconteceram, como algumas mudanças e pitacos que Liminha dava para algumas canções da banda. Os Titãs estavam acostumados a fazer tudo, da forma que queria, sem intrometimentos de diretores ou produtores, mas essa era a primeira vez que eles eram contestados por algo e tinham que mudar algo. Musicas como "Família", "O que" e "Cabeça Dinossauro" tiveram um tratamento especial de Liminha, que acabou achando o caminho certo para essas e outras canções. No fim das contas, Liminha se tornou importante para a banda, sendo considerado o 9º Titã; produzindo diversos outros trabalhos da banda (ao todo foram 7 álbuns) e participou de diversos shows com a banda. O material musical para o álbum já estava todo definido antes da banda entrar em estúdio. A primeira música a ser trabalhada, foi "AAUU", que a banda já tocava nos seus shows. A ultima música a ser trabalha foi "O que", ela e "Família" foram as faixas que mais teve mudanças  significativas em seus arranjos desde a primeira vez que foi trabalhada. O álbum foi gravado e mixado em um mês, e sua fita demo foi gravada em apenas dois dias, em um estúdio na Pompeia. 

Para o titulo do álbum, a banda ficou em duvida entre "Cabeça Dinossauro" ou "Homem Primata"; mas acabaram por escolher pela primeira opção, pela dualidade do racional (Cabeça) e o primitivo (Dinossauro). A capa e contracapa do álbum, foi ideia do tecladista e vocalista Sergio Brito. Ele havia estudado artes plásticas na faculdade, e tinha um livro de esboços de Leonardo da Vinci, quando viu dois desenhos específicos chamados "A expressão de um homem urrando" e "Cabeça grotesca". Ele de imediato achou que aquelas imagens seriam perfeitas para a capa do álbum e passou a ideia para Branco Mello que adorou e passou para o resto da banda. Num primeiro momento, eles tentaram usar as imagens tiradas diretamente desse livro, mas a qualidade das copias eram muito inferiores. Por sorte, um amigo do pai de Sergio, conseguiu os acetatos originais dos esboços, cedidos diretamente do Museu do Louvre, dando uma qualidade melhor para as copias. O álbum foi um dos primeiros no Brasil onde não vinha foto da banda estampada em sua capa e contracapa. Apesar disso, no encarte do álbum, tem fotos dos rostos dos integrantes com metade dos rostos iluminado e outro lado escurecido, num tom mais artístico. As primeiras 30 mil copias foram feitas em papel especial que era fosco e poroso, mais caro que o normal. Uma generosidade de André Midani, então presidente da Warner que deu total apoio ao projeto do começo ao fim. A ficha técnica para este álbum era a seguinte: Arnaldo Antunes (vocal), Branco Mello (vocal), Charles Gavin (bateria e percussão), Marcelo Fromer (guitarra), Nando Reis (vocal e baixo, exceto em "Igreja"), Paulos Miklos (vocal e baixo em "Igreja"), Sergio Britto (teclado e vocal), Tony Bellotto (guitarra). Teve a participação especial de Liminha, com guitarra em "Família" e "O que", percussão em "Cabeça Dinossauro", e DMX, Drumulator e efeitos em "O que"; e também participação do musico Repolho, tocando castanholas em "Homem Primata". Produção e direção de Liminha, engenheiro de som e mixagem de Vitor Farias, coprodutor Pena Schmidt, fotos de Vania Toledo e arte final de Silvia Panella.
Encarte original do vinil


Lançamento, divulgação e recepção

O álbum foi lançado em 25 de Junho de 1986, apesar da mudança sonora da banda e seu choque inicial, ele demorou um pouco para alavancar. Só foi estourar mesmo, depois de um show que a banda fez no teatro Carlos Gomes, no qual acabou rolando uma confusão e quebra-pau. O show da banda, acabou atrasando devido a problemas em uma peça infantil que havia tido antes. A equipe dessa peça demorou para desmontar o cenário, o que acabou atrapalhando a montagem dos equipamentos dos Titãs, atrasando o show e fazendo o publico quase destruir o lugar. Tony Bellotto até brincou com o ocorrido anos depois, dizendo que aquilo até ajudou a banda a chamar atenção. Belloto percebeu, que eles foram de shows com 300/400 pessoas, para milhares de pessoas, todas elas cantando todas as músicas do álbum; o que foi um choque para ele e o resto da banda. A primeira música de trabalho da banda, foi "AA UU", mas as rádios tiveram uma certa resistência em querer toca-la. Isso só mudou depois que o programa Fantástico, da Globo, passou um videoclipe da canção. Seus singles sequentes para divulgação do álbum foram "O que", "Policia", "Homem Primata", "Família" e "Bichos Escrotos". Branco Mello era o que mais estava empolgado com álbum, acreditava que iria vender bastante; já Bellotto não bota muita fé, apesar de estarem fazendo algo que a banda sempre queria, não parecia um álbum muito comercial. Os dois acabaram fazendo uma aposta, valendo uma garrafa de uísque: Branco apostou que o álbum chegaria a 100 mil copias, o que rendia disco de ouro; já Bellotto não botava fé nisso. Em um ano, o álbum vendeu cerca de 250 mil copias, rendendo o primeiro disco de ouro para a banda. Até 2016, foi contabilizado que o álbum superou a marca de 700 mil copias. Bellotto teve que pagar a aposta feita, mas disse que essa foi uma aposta que ele teve o prazer de perder. Além da aceitação do publico, o álbum também foi muito bem elogiado pela critica especializada. O jornal  O Estado de S. Paulo afirmou que o álbum era a grande surpresa do ano; um disco chocante, punk, nervoso, acido e curioso. Rendeu a banda uma turnê nacional que até Dezembro daquele ano, os levaram para mais de 40 palcos, acumulando muito mais fãs para a banda. Das 13 faixas do álbum, 11 tocaram nas rádios, sendo um sucesso radiofônico. 
Titãs ganhando seu primeiro disco de ouro com Cabeça Dinossauro


Legado e importância do álbum








Cabeça Dinossauro Ao Vivo 2012
Cabeça Dinossauro é considerado um dos discos mais importantes dos rock brasileiro dos anos 80; tendo sido lançado no mesmo ano que outros álbuns importantes como Dois (Legião Urbana), Vivendo e não aprendendo (Irá!), Selvagem (Paralamas do Sucesso) e Longe de mais das capitais (Engenheiros do Hawaii). Foi incluído em uma lista dos 100 melhores discos da música brasileira ficando em 19º lugar. Em 2012, foi eleito pelo publico da Radio Eldorado FM, do portal Estadão.com e do Caderno C2+Música como o sétimo melhor disco brasileiro da historia. O álbum é atemporal, abordando assuntos e temas que refletem sua época e continuam a ser discutidos: policia, igreja, família, capitalismo, politica, violência. Um disco temático, meio que sem querer, que refletia o atual estado da banda e do país naquele momento. Se transformou num dos discos mais importantes da banda, que definiu sua identidade sonora e o caminho que seguiria dali para frente. Um álbum que quando a banda pensa em como é um disco dos Titãs, "Cabeça Dinossauro" é o primeiro que vem na mente dos integrantes. Faltava barulho no cenário musical brasileiro, algo mais direto e cru, e esse foi o álbum certo no momento certo. A banda finalmente alcançou o estrelato, participando de vários programas, shows pelo Brasil a fora e até shows internacionais. Em 2012, durante as comemorações dos 30 anos da banda, o álbum passou a ser executado na integra nos shows e teve um relançamento do álbum com as 13 faixas originais, mais as suas demos e a inédita "Vai pra rua", que era para ter entrado no disco, mas foi substituída por "Porrada". Um desses shows foi registrado e lançando no final de 2012 em CD, DVD, Blu-Ray e digitalmente, intitulado Cabeça Dinossauro Ao Vivo 2012. Essa turnê foi determinante para o direcionamento musical que a banda queria ter para seu próximo álbum. O disco Nheengatu, lançado em 2014, é fruto dessa revisita ao Cabeça Dinossauro, com seu rock puro e cru, e as musicas fazendo diversas criticas sociais. Em 2016, quando o álbum completou 30 anos, ele ganhou um livro de contos  chamado "Cada um por si e Deus contra todos" e uma peça teatral intitulada "Cabeça", inspirada em suas faixas.

Faixa a Faixa


Cabeça Dinossauro
Compositores: Arnaldo Antunes, Branco Mello e Paulo Miklos
Começamos com a faixa titulo que abre o álbum e é cantado por Branco Mello. Durante uma viagem de ônibus da banda, Paulo Miklos mostrou aos outros integrantes uma fita cassete com registros de rituais tribais dos índios do Xingu; era um cerimonial para afugentar espíritos. Por cima daquela batida, Branco começou a improvisar os versos "Cabeça Dinossauro/ Cabeça Dinossauro/ Cabeça, cabeça, cabeça dinossauro". Arnaldo e Paulo ajudaram a complementar a canção com os versos "Pança de mamute" e "Espirito de porco". Ao gravar a bateria para a canção, Charles que fazer um solo que realmente parecesse algo indígena, mas sentiam que faltava alguma coisa. Depois de varias tentativas com diversas ritmos em percussão; Liminha pegou as baquetas e começou a batucar no chão, paredes e pilares do estúdio. No fim das contas, essas batidas feitas por Liminha foram aprovadas pela banda e complementaram a canção da maneira que queriam. Branco Mello gravou um clipe da música, filmando a banda na Chapada do Guimarães, Mato Grosso. Uma curiosidade, é que essa canção apareceu no Acústico MTV da banda, lançado em 1997, tendo sua letra declamada por Marina Lima.



AA UU
Compositores: Marcelo Fromer e Sergio Britto
Cantado por Sergio Britto, "AA UU" foi a primeira canção gravada para o álbum e a primeira a ser escolhida para single. Para Sergio, a música é como um grito, alguém esbravejando desesperadamente para ser ouvido. A canção teve uma certa resistência pelas rádios para ser tocada, até mesmo Renato Russo (Legião Urbana), durante um programa de tv, questionou a banda sobre se realmente queria usar aquela musica como a principal de trabalho, pois achava meio arriscado. No fim das contas, as rádios cederam depois de muita insistência, ainda mais depois que o programa Fantástico começou a exibir um videoclipe da canção. A música depois foi incluída na trilha sonora da novela Hipertensão, exibida na Globo entre Outubro de 1986 e Abril de 1987; e futuramente também incluída  na trilha sonora do filme "Meu nome não é Johnny", de 2008. Bellotto brinca falando a respeito do riff e base da música, que foi meio feito sem vontade, sendo algo simples e pouco elaborado.



Igreja
Compositor: Nando Reis
Cantado por Nando Reis, a canção foi composta por ele num violão de nylon, na casa de sua mãe. Naquele ano, o diretor Jean-Luc Godard havia lançado o filme "Je vous salue, Marie" e acabou sendo boicotado pelo governo Sarney. O cantor Roberto Carlos, no qual Nando era fã incondicional, apoiou o boicote, o que ia contra os ideias do baixista dos Titãs, a questão da liberdade. Nando conta que teve uma educação católica e até chegou a estudar em colégio de freiras, e isso tudo o fez quer uma certa raiva da igreja; ele não confia e não tem nenhuma religião. Essa canção foi uma das ultimas a entrar no disco, quase ficando de fora; isso porque Branco, Paulo e Arnaldo não queriam a inclusão da faixa. Branco e Paulo até cederam depois, mas Arnaldo se manteve contra, pois se dizia religioso e acreditava que a igreja tinha feito grandes colaborações para a historia. Nos primeiros shows da turnê do Cabeça Dinossauro, Arnaldo chegava a se ausentar do palco, como uma forma de protesto contra a canção. Mas depois de um tempo, ele começou a aceitar aquilo e não saia mais dos palcos no momento em que ela era executada. Essa foi a única canção na qual Nando não tocou baixo, deixando a função para Paulo Miklos.



Policia
Compositor: Tony Bellotto
A prisão de Arnaldo e Bellotto, foi a inspiração para o guitarrista escrever a canção "Policia", um dos grandes clássicos da banda presente neste álbum. Na época, ele afirmou que seria ingenuidade pensar que um país não precisaria da policia para combater assaltantes, ladrões e assassinos; mas que acreditava que não precisava da policia na sua vida no momento que foi preso por porte de heroína. A primeira vez que Bellotto mostrou a canção para a banda, ninguém colocou fé naquela composição e ninguém queria canta essa canção, até porque Bellotto não cantava na banda. Ele tinha pensado inicialmente em dar a canção para Paulo cantar, mas ele preferiu escolher "Estado Violência". A canção quase ficou de fora, até que Sergio decidiu canta-la, pois perceberá que só havia cantado duas canções no álbum até então ("AA UU" e "Homem Primata"). Na hora de gravar, Sergio teve alguns problemas que o chatearam bastante; ele teve apenas 3 minutos para gravar a voz e em somente um take. Sem falar que em quanto ele gravava, o produtor Liminha estava conversando com Evandro Mesquita, da banda Blitz, sobre pesca submarina; não prestando atenção nenhuma naquele momento. Isso acabou fazendo o vocalista cantar com mais raiva a canção, dando o tom certo para ela. A canção foi a terceira lançada em single, junto com um remix de "O que" e se tornou um dos grandes hits da banda. A canção foi futuramente regravada pela banda brasileira de heavy metal Sepultura e também fez parte da trilha sonora do filme Tropa de Elite.



Estado Violencia
Compositor: Charles Gavin
Cantado por Paulo Miklos, "Estado Violência" foi composta pelo baterista Charles Gavin e inicialmente oferecida para banda Ira!, na qual ele era integrante antes de trocar de lugar com André Jung nos Titãs em 1985. Nando Reis ajudou a estruturar a canção, mas não interveio o suficiente para querer constar como coautor. Assim como "Policia", a letra também foi inspirado na prisão dos colegas de banda, mais especificamente criticando o poder do Estado; o que você faz e como você age. E também um reflexo do atual momento do país, pós-ditadura militar, com diretas já e outras manifestações sócio-política. A canção foi regravada pelo grupo Biquíni Cavadão, com álbum de covers "80", lançado em 2001.



A face do Destruidor
Compositores: Arnaldo Antunes e Paulo Miklos
Canção mais rápida do álbum com apenas 34 segundos, "A face do Destruidor" foi feita meio que no improviso durante as gravações do álbum. Um poema que havia sido escrito por Arnaldo, mostrando toda a baderna que era a canção, ela foi cantada num folego só por Paulo Miklos. A base da musica é tocada de trás pra frente, usando o efeito de reverse.



Porrada
Compositores: Arnaldo Antunes e Sergio Britto
Cantado por Arnaldo Antunes, "Porrada" é uma típica canção punk, que critica o poder e o favoritismo de certos grupos e pessoas, e como eles não fazem absolutamente nada com esse poder.


To Cansado
Compositores: Arnaldo Antunes e Branco Mello
Cantado por Branco Mello, "To Cansado" é canção que finaliza o lado A do disco. A canção é um certo respiro, depois de tantas musicas pesadas, agressivas e rápidas. Seguindo um tom mais melancólico, mas sem deixar o peso do rock, seu versos são um desabafo de alguém que está cansado de tudo e todos a sua volta.



Bichos Escrotos
Compositores: Arnaldo Antunes, Nando Reis e Sergio Britto
Abrindo o lado B do disco, temos "Bichos Escrotos", cantado por Paulo Miklos. A canção já era tocada nos shows da banda, desde 1982, mas devido a ditadura militar, a canção era proibida de ser gravada, por conta da presença de um palavrão. Durante a gravação de uma demo, Arnaldo, Nando e Sergio se ausentaram do estúdio e ficaram num pátio. Nisso, Nando viu uma barata saindo de um ralo e inspirou os 3 a criar uma música. Segundo ele, a musica usa os animais citados na canção (baratas, pulgas e ratos) como uma metáfora para a própria banda; pois eles buscavam fugir de estereótipos estéticos, musicais e morais. Enquanto compunha a canção, eles começaram caminhar, meio bêbados, e foram para na frente da casa de Paulo Miklos, que tinha acabado de se casar naquela época. Segundo Paulo, eles começaram a fazer um "serenata" para ele, cantando os versos da canção, o acordando e ficando confuso com tudo aquilo que estava acontecendo. Em uma das primeiras apresentações da faixa, Nando Reis se disfarçava e se misturava no meio da plateia. Em determinado momento, ele interrompia a banda, dizendo que aquilo não era música, e simulava uma discussão com Arnaldo e depois se juntava a banda para continuar tocando a canção. A música finalmente pode ser gravada em "Cabeça Dinossauro", mas ainda sofreu com a censura; ela era proibida de ser tocada nas rádios, e se tocada, estava propicia a multa. Porém, a música era tão requisitada, que as rádios preferiam pagar a multa, que não era muito alta, ao invés de deixar de tocar a musica. Em 1987, a banda lançou uma versão ao vivo da musica como singles, e para um videoclipe, a frase "vão se foder" era substituído por "vocês vão ver". Em 2010, Nando Reis regravou a canção no CD/DVD "Bailão do Ruivão", onde tocava diversas covers de diversos artistas.



Família
Compositores: Arnaldo Antunes e Tony Belloto
Cantado por Nando Reis, "Família" traz um pouco do flerte que a banda tinha com o reggae nos dois primeiros disco. Bellotto conta que fez essa canção com Arnaldo, na sala da sua casa; sua letra retrata o cotidiano típico do ambiente familiar. Liminha participou da canção tocando guitarra, e fez algumas alterações que a banda inicialmente não gostou. A canção era mais lenta, mas Liminha acabou acelerando a canção; isso no primeiro momento não agradou a banda, mas depois aceitaram a mudança no ritmo da canção. Ela foi lançada como single em 1987, juntamente com a canção "Flores em você" do Irá!, e ela fez parte da trilha sonora da novela Corpo Santo, exibido na Rede Manchete entre Março de e Outubro de 1987. A canção foi regravada pelo grupo de pagode Molejo e também o próprio Nando Reis a regravou junto com seus filhos Théo e Sebastião.



Homem Primata
Compositores: Ciro Pessoa, Marcelo Fromer, Nando Reis e Sergio Britto
Cantado por Sergio Britto, a canção "Homem Primata" é uma composição antiga banda; tanto que um dos seus autores foi Ciro Pessoa, que saiu da banda antes da gravação do primeiro disco. A música é uma critica ao relacionamento do homem com o trabalho e sua evolução, chamando o capitalismo de selvagem. Tony fala sobre a mania de Sergio em colocar piano nas canções; ele fez isso com "To Cansado" e fez a mesma coisa com "Homem Primata". A canção foi lançada como lado A de um single que acompanhava uma regravação e remix de "Policia", além de ter ganhado um videoclipe. A banda brincava na época, dizendo que essa canção tinha sido feita pensado em ser gravada por Lulu Santos.



Dividas
Compositores: Arnaldo Antunes e Branco Mello
Voltando a flertar com reggae, "Dividas" é cantando por Branco Mello e fala justamente da falta de dinheiro e do acumulo de dividas e contas. Essa canção foi uma das poucas que não tocaram na radio, justamente com "A face do destruidor".



O que
Compositor: Arnaldo Antunes
Cantando e escrito por Arnaldo Antunes, "O que" foi a ultima musica a ser gravada e a que mais demorou a ficar pronta. Arnaldo estava tentando musicar um poema que havia escrito, mas usando acordes muito complicados; foi quando ele percebeu que a canção poderia ser tocada num acorde só e retrabalhou a canção. Mesmo assim, a banda não estava achando o ritmo e o tom certo da canção, ao ponto de Liminha deixar a banda fazendo Jam Session intermináveis até conseguir achar ritmo certo. Até que foi proposto colocarem bateria eletrônica, efeito programados e samples. Liminha ajudou a estruturar o baixo, gravou guitarra e programou os efeitos e samples para a canção. Ele acabou sendo a canção com maior duração do álbum, com 5:38 e a que mais se diferencia do resto do álbum. Enquanto as outras canções são de rock pesado e cru, "O que" é uma canção mais eletrônica. A gravação da canção durou uma semana, até que tudo esteve da maneira que queriam. A canção foi a segunda lançada pela banda, e ainda recebeu outras versões, como um remix estendido, que contava com versos cantados por um rapper intitulado Raven T. Além de ter recebido um versão para radio, que é uma versão editada da estendida e uma versão Dub. Dessas, apenas a versão estendida apareceu em CD, na coletânea E-collection. A canção foi importante para definir um rumo musical para o próximo álbum. Da mesma forma que canções como "Massacre" e "Autonomia" do álbum Televisão foram inspiradoras para o Cabeça Dinossauro, a canção "O que" foi inspiradora para as canções mais eletrônicas nos álbuns Jesus não tem dentes no país dos banguelas e Õ Blesq Blom.



Vai pra Rua
Compositores: Arnaldo Antunes e Paulo Miklos
Cantando por Arnaldo Antunes, essa canção está presente apenas na edição especial lançada em 2012. O álbum duplo, conta com um disco só com as demos das canções. "Vai pra Rua" era para ter entrado no álbum, mas acabou sendo substituída por "Porrada" na edição final do álbum original.

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