quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Abbey Road (The Beatles) - 50 anos de um clássico

Há 50 anos, no dia 26 de Setembro de 1969, era lançado o 12º álbum da banda Britânica de Rock The Beatles. Abbey Road fez historia, sendo um dos álbuns mais importantes da banda, juntamente com clássicos como Revolver, Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band, White Álbum; além de ser também um dos mais importantes da historia da música. O álbum vendeu mais de 30 milhões de unidades, até os dias de hoje e está na posição 12º dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame e 14º na lista da Revista Rolling Stone. Tudo nele, fez com que fosse memorável; desde de suas canções magnificas e bem elaboradas, novas tecnologias de gravação usadas, até sua capa emblemática. Inclusive, o próprio produtor da maior dos álbuns da banda, George Martin, considera este o melhor álbum dos Beatles; por ser o bem mais acabado e cuidadosamente produzido (comparável somente com Sgt. Peppers). Apesar de ser o penúltimo álbum que a banda lançou, foi o ultimo em que a banda gravou junto, antes de seu fim definitivo; então este álbum acaba tendo um pequeno ar de despedida indiretamente.

Ficha Técnica e Gravações do Álbum
Produzindo pelo lendário produtor dos Beatles, George Martin; juntamente com Geoff Emerick e John Kurlander como engenheiros de som (Kurlander viria a ser produtor e diretor de som da trilogia Senhor dos Aneis), Alan Parsons como assistente de som (viria a ser engenheiro de som do álbum Dark Side of the Moon, do Pink Floyd) e Tony Banks como operador de fitas. O álbum foi gravado durante o período de 22 de Fevereiro á 20 de Agosto de 1969; apesar do nome, boa parte dele foi gravado no Trident Studios, e lançado através do selo Apple Records, criado pelos próprios Beatles. Contendo 17 faixas (lado A com 6 e lado B com 11), numa duração total de 47 minutos e 23 segundos. Após as desastrosas sessões do projeto chamado "Get Back" (que futuramente viria a se tornar o álbum e filme "Let it Be"), Paul McCartney sugeriu a George Martin que os Beatles se reunisse para gravar um álbum "como nos velhos tempo"; gravado ao vivo, com poucos "overdubs" (técnica de sobreposição de gravação de audio) e sem os conflitos internos que começaram durante as gravações do White Álbum. Martin de começo, ficou relutante com a ideia; os conflitos da banda e o fato dele ter sido produtor secundário durante o projeto "Get Back", o fizeram ficar muito pensativo a respeito de produzir mais uma vez os Beatles. Então ele aceitou, com a condição de que a banda se comportasse "como nos velhos tempos", e ele seria "o produtor dos velhos tempos" também. Com o consentimento de Jonh Lennon, a banda então entrou em estúdio e começo a compor e gravar. Algumas canções, eles acabaram gravando usando overdubs e efeitos sonoros; coisas que haviam feito nos seus últimos álbuns, mas boa parte do Abbey Road, foi gravado ao vivo e sem muitos efeitos. Foi o primeiro álbum a ser gravado em oito canais e a banda usufruiu muito do sintetizador Moog, que começava a ser bastante usado pelas bandas de Rock, pois possibilitava que qualquer som pudesse ser produzido nele. O álbum tem dois lados bem distintos entre si, a fim de agradar tanto a Jonh, quanto ao Paul. O lado A que vai de "Come Together" a "I Want You", foi feito para agradar Lennon; uma coleção de faixas individuais e únicas. Enquanto o lado B foi feito para agradar McCartney; com uma coletanea de curtas faixas que seguem sem interrupção, como se fosse um enorme pout-pourri de ideias. Inclusive, Lennon não curti muito essa ideia de medley de canções, queria um álbum mais tradicional; por isso que Martin achou boa a ideia de dividir o álbum para agradar os dois. Por seu trabalho no álbum, os engenheiros de som Geoff Emerick e Phillip McDonald ganharam um Grammy.
Geoff Emerick (1945 - 2018), Alan Parsons, George Martin (1926 - 2016) e John Kurlander 

Capa e Nome do Álbum
Iain Macmillan, fotografo da capa do álbum
Durante as gravações, o engenheiro de som Geoff Emerick fumava muito os cigarros da marca "Everest"; por muito tempo a banda havia decidido que aquele seria o nome do álbum. Até pensaram em fretar um jato e ir até o monte Everest, tirar fotos para o álbum. Mas por problemas internos e de prazos, decidiram chamar o álbum com o nome do estúdio e as fotos foram tiradas ao lado do próprio estúdio. Na manhã de 8 de Agosto de 1969, os Beatles deram uma pausa nas gravações para fazer a sessão de fotos. O fotografo responsável pela sessão, foi Iain Macmillan (20 de Outubro 1938 - 8 de Maio de 2006). Paul havia lhe mostrado um desenho, de como queria que a foto da capa fosse; então ele teve ajuda de guardas que pararam o transito da rua ao lado do estúdio, para ele poder fotografar os integrantes atravessando a faixa de pedestre. Foram 6 fotos, feitas durante 10 minutos; só não foram mais, porque John Lennon se cansou daquilo e foi embora -"Deveríamos estar gravando o disco, e não posando para fotos idiotas"- palavras do próprio Lennon, segundo o fotografo. Segundo Macmillan, a foto escolhida foi a quinta ou sexta, pois era a única em as pernas dos Beatles formava um "V" perfeito. Uma outra decisão de designer da capa, é o fato de não ter o seu nome e o da banda nela; um dos primeiro álbuns na qual nem o nome do álbum ou da banda aparece na frente. A foto da capa de Abbey Road se tornou algo tão icónico e memorável, que se tornar um marco na cultura pop. Diversos artistas e banda a replicaram em capas e fotos de publicidade; até mesmo programas de TV e desenhos parodiaram a emblemática capa do Abbey Road. Coisas curiosas envolvem essa capa e o local onde a foto foi tirada. A começar pelo fato de que a data na qual foi tirada a foto, foi definida como o Dia Mundial do Pedestre; a própria ONU reconhece e oficializou está data. A placa do Fusca que estava estacionado no lado direito da foto, foi roubada diversas vezes, causando transtorno para seu dono. Em 1986, o Fusca foi vendido por 2.530 libras num leilão e depois em 2001, foi colocado em exposição num museu da Volkswagen na Alemanha. É possível ver o que acontece na Abbey Road 24 horas por dia, ao vivo; pois há uma camera instalada, que transmiti tudo para este site aqui: abbeyroad.com/Crossing.
As 6 fotos, tiradas por Iain Macmillan

A capa que alimentou uma lenda urbana
Contra-capa do disco
Até os dias de hoje, existe uma lenda de que o verdadeiro Paul McCartney morreu e que um sósia tomou o seu lugar. Essa lenda nasceu em Novembro de 1969, durante um programa de radio nos Estados Unidos; um ouvinte ligou falando a respeito desse boato e mostrando uma lista de pistas e evidencias que poderiam comprovar isso, e algumas outras o própria radialista foi acrescentando na hora. A capa de Abbey Road, é uma dentre varias fontes de pistas que os Beatles podem ter deixado escondidas, para avisar sobre está farsa. A começar pelo fato de Paul estar segurando um cigarro na mão direita na foto, sendo que na verdade ele é canhoto; além de ser o único que está fora de compasso ao andar, comparado aos outros Beatles na capa ( ele está com o pé direito na frente, enquanto os outros estão com o pé esquerdo). Paul é o único que está descalço (os mortos são enterrados descalço) e está com os olhos fechados. A própria capa pode ser interpretado como um cortejo fúnebre: John seria o padre, Ringo seria o agente funerário, Paul o cadáver e George o coveiro. O carro preto, parado mais para o fundo da foto, lembra um carro funerário. O fusca branco tem em sua placa as letras "LMW"; que alguns teorizam que significaria "Linda McCartney Widow" (Linda McCartney Viuvá); Linda era a atual esposa de Paul. Logo a baixo dessas letras, está escrito "281F", que muitos interpretam como "28 if" (28 se); que significaria que Paul teria 28 anos se estivesse vivo. E pra terminar, na contracapa do disco, aparece 8 furos na parece que formam o numero 3, querendo dizer que haveria 3 Beatles ao invés de 4. Desde essa época, Paul sempre vem a publico falar sobre esses boatos, desmentido e explicando certas coisas. Ele diz que no caso dele estar descalço na capa do álbum, era pelo fato de estar muito calor no dia das fotos, e ele não conseguir ficar com nada nos pés de tanto calor que sentia. O próprio Paul lançou um álbum ao vivo em 1989, chamado "Paul is Live", onde a própria capa é uma replica de Abbey Road, com algumas alterações, justamente para brincar com o esse mito que perpetua até hoje.
Capa do Álbum "Paul is Live"

Faixa a Faixa

Come Togheter
A canção começou sendo um jingle para o guru do LSD Timothy Leary, que estava concorrendo ao governo da Califórnia. Amigo pessoal de John Lennon, ele havia pedido para compor um jingle inspirado no seu slogan de campanha: "Come Together, Join the Party". Após ter criado uma versão "bruta" da canção e ter entregado para ele, Lennon percebeu potencial na canção e começou a retrabalhar a canção para lança-la. As gravações da canção tiverem inicio no dia 21 de Julho de 1969 e fui concluído no dia 7 de Agosto de 1969. John se inspirou na canção "You Can't Catch Me" de Chuck Berry para montar a base da música, mas sua canção era um pouco mais lenta se comparada a de Berry (foi Paul que sugeriu que a canção fosse um pouco mais lenta). Inicialmente, ele não queria guitarra na canção, mas McCartney achou que sem base e só no piano, o som ficaria vazio; foi ele que acabou dando a ideia do solo de guitarra que acabou entrando na música. No decorrer da canção, Lennon cita a expressão "Shoot me", que pode ser traduzido para "atire em mim" ou "Injete em mim" (uma gíria para o uso de heroína). Paul não gostava daquele trecho, sabendo que ele não conseguiria convencer John de retirar ou mudar essa parte, Paul decidiu tocar o seu contra-baixo o mais forte possível, para cobrir a fala de John neste parte. A canção chegou a ser lançada em forma de single em 6 de Outubro de 1969, como lado B, sendo "Something" o lado A deste single. Em uma nota do álbum "Love" de 2006, George Martin disse que esta é a sua canção favorita da carreira dos Beatles. Leary acabou ouvindo depois a versão definitiva daquela canção, quando estava a prisão, preso por porte de maconha; o que fez acabar com sua candidatura. O mesmo deu uma entrevista na Rolling Stone, anos depois, dizendo que havia mandado uma carta a John Lennon, dizendo o quanto estava chateado com aquilo. Segundo ele, Lennon o respondeu da seguinte forma:"Eu era um alfaiate, e voce um cliente que fez um pedido de um terno e nunca voltou, então eu havia vendido para outra pessoa." Anos depois do lançamento da canção, Lennon foi alvo de um processo judiciário por acusação de plagio; pois "Come Together" realmente tinha muitas similaridades com "You Can't Catch Me" de Chuck Berry. Lennon assumiu que se inspirou na canção para fazer a sua, e para evitar mais transtornos, fez um acordo de gravar algumas canções de Berry em seu álbum solo. Em 1975, Lennon lançou o álbum "Rock and Roll", tendo a própria canção "You Can't Catch Me" e também "Sweet Little Sixteen" de Chuck Berry. A canção também foi gravada pela banda Aerosmith e por Michael Jackson, e quando o catalogo de canções dos Beatles foram disponibilizados no Spotify, ela foi a mais tocada durante alguns meses.




Something
Canção escrita por George Harrison, "Something" teve diversas inspirações. Desde de o cantor Ray Charles (na qual o imaginou cantando essa canção), até mesmo a sua esposa na época, Pattie Boyd. A primeira estrofe da canção, venho inspirada na canção "Something in the Way She Moves", do cantor James Taylor, artista que havia assinado com a gravadora fundada pelos Beatles, a Apple Records. George começou a escrever a canção, durante as gravações do "White Álbum", mas não teve tempo de inclui-la na versão final; voltando a ensaiar a canção, durante as sessões de "Let it Be". Chegou a pensar em dar a canção para o artista Joe Coker gravar, mas voltou atrás e decidiu inclui-la em Abbey Road. As gravações da canção, tiveram inicio em 25 de Fevereiro de 1969, sendo concluída no dia 19 de Agosto de 1969. Além de George (vocal e guitarra), Paul (baixo), Ringo (bateria) e John (teclado), a canção contou com uma orquestra: 12 violinos, 4 violas, 4 violoncelos. Foi lançado como lado A, do mesmo single que contia "Come Together", foi a única canção de Harrison lançada como lado A de um single. "Something" se tornou a segunda música mais regravada e executada de todos os tempos, perdendo apenas para "Yesterday" também dos Beatles. George Martin disse uma vez, que essa é a canção mais bonita do álbum. Paul incorporou está canção no seu setlist em homenagem ao ex-companheiro de banda.




Maxwell's Silver Hammer
Escrita por Paul, com uma sonoridade agradável, "Maxwell's Silver Hammer" na verdade traz uma letra cheia de humor negro. Ela conta a historia de Maxwell Edison, que tem tendenciais homicidas e sai por ai, matando as pessoas com seu martelo de prata. Não há nem motivo do martelo ser de prata; Paul só achou que soaria melhor "Martelo prata de Maxwell" do que somente "Martelo de Maxwell". Isso seria uma analogia, dizendo que as vezes as coisas estão indo muito bem, até que chega o martelo prata de Maxweel e "Bang! Bang!"; acaba com tudo. A canção foi criada durante as gravações do White Álbum e ensaiada durante as sessões de "Let it Be". Paul acreditava que a canção seria um grande sucesso, planejando-a lançar como um single; mas não acabou acontecendo. Acabou que as gravações dessa canção, acabou se tornando muito problemática para todos da banda, levando 3 dias inteiros para grava-la. Quando perguntado uma vez para Ringo Starr, qual foi o pior momento ao lado dos Beatles; e ele disse que foi justamente as gravações dessa canção. Até mesmo George Harrison falou uma vez, que também foi um dos seus piores momentos na banda. Durante as gravações, John Lennon dizia que aquela "era mais uma ideia estapafúrdio de Paul"; chegou até a abandonar as gravações da canção. Harrison teve que repetir diversas vezes o solo de guitarra e Ringo odiava a ideia de ter que tocar bateria sem bater na caixa, com a baqueta batendo na coxa para marcar o tempo (só no refrão ele toca normalmente). McCartney argumentava que apenas queria "tudo dando certo", ou seja, "tudo do seu jeito". Outro detalhe, é que eles alugaram uma bigorna para fazer os barulhos de martelo batendo; uma coisa que foi complicada de fazer, pois a bigorna era muito pesado e seu martelo também. Ringo nem conseguia levar direito o martelo para bater, tendo que deixar um dos roadies da banda (que era bem forte), ter que fazer o trabalho. George Martin ainda participou da canção, tocando orgão hammond.


Oh! Darling
Paul quis fazer uma balada de rock romântico, ao estilo anos 50. "Oh! Darling" é sobre uma pessoa pedindo para sua amada acreditar nele, pra nunca abandona-lo e que nunca fará mal nenhum. Para realizar o vocal gritante e rasgado da canção, Paul chegava bem mais cedo que os outros Beatles no estúdio, pois dizia que sua voz era bem melhor logo cedo de manhã. Ele queria dar o ar de alguém que já estava a uma semana cantando ao vivo. Ele passou 5 dias seguidos nessa rotina para gravar, até que conseguisse o take que precisava. John chegou a se oferecer para cantar a canção, pois dizia que fazia mais seu estilo de voz; tanto que existe uma versão no disco "Anthology 3", onde John canta algumas partes e ainda pode se ouvir John comemorando o divorcio de sua futura esposa, Yoko Ono. A canção também fazia parte do projeto "Get Back", tanto que tinha Bily Preston tocando teclado nela. Robin Gibb, da banda Bee Gees, gravou uma cover da canção e a lançou como single em Julho de 1978; juntamente com outra canção dos Beatles, "She's Leaving Home".


Octopus's Garden
Está foi a segunda colaboração de Ringo Starr com uma composição para a banda (a primeira foi "Don't Pass me By" do "White Álbum"). Com a enorme tensão que estava entre a banda, durante o álbum anterior, Ringo decidiu pegar a sua família e tirar umas ferias na ilha italiana de Sardenha. Um dia, no iate do ator Peter Sellers, ele pediu "Fish 'n Chips" (peixe frito com batatas fritas), mas acabou vindo polvo no lugar do peixe. Com isso, o capitão do iate começou a falar sobre a vida dos polvos; contando que para se protegerem, os polvos coletavam pedras e outros objetos brilhantes no fundo do mar e os juntavam em um só lugar, fazendo parecer um jardim - Octopus's Garden (Jardim dos Polvos). A canção em si, fala de alguém que quer fugir da realidade com a sua família, ficar escondido e protegido com a pessoa amada, em algum lugar do fundo do mar. Apesar de Harrison ter auxiliado na canção (isso pode ser visto, em algumas partes do filme "Let it Be"), a canção é de total autoria de Ringo. Essa foi a primeira e única composição de Ringo para a banda, que fez muito sucesso. Em 2015, a canção virou livro infantil, com ilustrações de Ben Cort.


I Want You (She's So Heavy)
"I Want You (She's So Heavy)" trata-se de uma junção de duas melodias inacabadas de John Lennon; uma das canções menos convencionais dele. Apesar dos seus poucos e simples versos, a canção é uma das mais longas dos Beatles; tendo 7 minutos e 47 segundos. A canção constituía da partes mais calmas e serenas, onde os versos seguintes são cantados: "I want you, I want you so bad/ It's driving me mad, it's driving me mad" ("Eu quero voce, eu quero voce demais/ Isto está me deixando louco"). E depois a outras partes mais pesada e intensa, com os versos "She's so heavy! Heavy!" ("Ela é muito intensa! Intensa"), sendo repetido varias vezes. Segundo o que alguns dizem, Lennon escreveu está canção para Yoko One; foi ele estava tão apaixonado por ela, que não conseguia pensar em mais nada. Foram cerca de 35 tomadas, desde que as gravações da canção começaram; até no final foi junta 3 dos melhores takes da canção. Lennon e Harrison se revezaram nas guitarras, gravando diversas linhas de solos, que foram sendo sobrepostos com ajuda de overdubs. Lennon também usou o sintetizador Moog para fazer diversos efeitos na canção, como os sons de ventos. Bily Preston também participou das gravações dessa canção. Ao final da canção, ela tem corte no final dela, deixando um silencio muito abrupto, que foi um diferencial na época. Alguns dizem que o corte foi acidental, pois a fita tinha acabado bem no final da gravação. Outros dizem que foi o próprio John que havia pedido para o engenheiro de som, fazer o corte no tempo pedido. As gravações da música haviam começado no dia 22 de Fevereiro (abrindo os trabalhos do álbum) e foi concluído no dia 20 de Agosto (onde fechou a produção do álbum). Essa data é emblemática, pois foi o ultimo dia em que os 4 Beatles estiveram juntos, gravando e mixando alguma canção. Muitos críticos a consideram uma canção de rock progressivo; por causa da sua estrutura musical, os solos "falados" e a longa duração. Outra coisa que se destaca, a montagem das guitarras, formando uma massa sonora típica das canções de Heavy Metal. Existe uma gravação não-oficial lançada desta canção, onde Paul faz o vocal principal; realmente existiu um take onde ele canto a música, pois John deu-lhe uma oportunidade de canta-la por achar mais a sua cara. "I Want You (She's so Heavy)" fecha o lado A do vinil; agora partiremos para o lado B.


Here Comes The Sun
Canção que abre o lado B do vinil; "Here Comes The Sun" é mais uma grande composição de George Harrison, que se tornou um grande clássico dos Beatles e uma das canções mais famosas da banda. Após todas as tensões que estavam tendo entre os integrantes da banda e toda a parte burocrática da Apple Records; no começo da primavera inglesa, Harrison resolveu tirar um dia de folga e visitar se amigo Eric Clapton em sua casa. Logo pela manhã, ele estava dando uma volta na jardim, junto com seu amigo, levando um violão; aquele amanhecer de primavera foi tão inspirador para Harrison, que foi assim que ele começou a compor a canção. Clapton, que presenciou a canção tomar forma, disse que Harrison sempre tinha o costume de estar com o violão por perto. Uma harmonia muito linda e uma letra super otimista, que ilustrava o final de um longo inverno (tanto de forma literária, quanto metafórica). Ela também foi inspirada na canção "Bagde" da banda Cream (de Clapton). Para as gravações dessa canção, Lennon não participou, pois estava se recuperando de um acidente de carro. Harrison usou bastante do sintetizador Moog, além de tocar violão, guitarra e ser a vocal principal. Paul tocou baixo e vez os vocais de acompanhamento e Ringo tocou bateria. A canção ainda contou com uma orquestra para acompanhar. A gravação da canção começou no dia 7 de Julho e foi concluído no dia 19 de Agosto. A canção seguiu uma estrutura parecida com outra composição de Harrison, "If I Needed Someone", onde os solos instrumentais seguem por toda a canção. Em 1989, Lulu Santos gravou uma versão em português desta canção. Em 1997, durante um programa especial do SBT, em homenagem ao piloto Emerson Fittipaldi; George Harrison apareceu em video cantando uma versão da canção, chamada "Here Comes The Emerson", para homenagear o amigo.




Because
Particularmente uma das canções mais bonitas dos Beatles, e que demonstra todo o potencial harmónico da banda. Certo dia, Lennon estava escutando Yoko One tocar no piano a "Sonata ao Luar" de Beethoven; até que teve a ideia de pedir que ela a tocasse os acordes invertidos, do fim para o começo. Com isso, ele acabou se inspirando na melodia e compos "Because". Na música; John, Paul e George cantam em coro harmonico, como já tinha feito em outras canções como "Yes It Is" e "This Boy". Só que para o resultado final da canção, as vozes foram 3 vezes sobrepostas (com o uso do recurso de overdubs), criando um efeito de 9 vozes cantando. Além dos vocais, John tocou guitarra, Harrison tocou sintetizador Moog, Paul tocou baixo e Martin tocou cravo. Apesar de não ter participado da gravação, Ringo ficou presente para marcar o tempo da canção e presenciar aquele momento. Para John, a letra é clara e simples; ela fala por si só. Na coletanea "Anthology 3", foi lançada uma versão da canção sem a parte instrumental; somente com o coro vocal dos Beatles. A canção também serviu de inspiração para uma peça teatral lançada em 2018 no Brasil, produzida por um ex-membro de uma banda cover dos Beatles.




You Never Give Your Money
Aqui começa o medley de canções inacabadas de Paul e John. "You Never Give Your Money" é uma canção que pode ser dividida em 4 partes diferentes. Na primeira parte, num estilo mais clássico e a letra pessimista; Paul demonstra sua insatisfação com o atual momento da banda e a parte financeira da gravadora Apple. Eles haviam fundado a gravadora e deixado a parte financeira com o agente da banda, Allen Klein. Sempre que Paul perguntava a respeito do dinheiro e da situação da Apple, o mesmo desconversava e dizia que os Beatles eram músicos e não homens de negócios. Klein era um empresário brilhante e persuasivo, mas seus métodos e forma de administrar as coisas acabaram causando muitos problemas e processos no futuro; até dos próprios integrantes dos Beatles. A segunda parte já começa a mudar um pouco o tom da musica, com uma letra que fala sobre ficar desempregado e não ter perspectiva de futuro. Na terceira parte, a música já fica mais animada, e fala de um sonho duradouro e um momento magico; nesta parte, Paul modifica o seu modo de cantar a canção. E na quarta e ultima parte, os últimos versos são cantados em coro, enquanto a musica vai se acalmando e diminuindo, até terminar e fazer a transição para a canção seguinte. A gravação da canção teve inicio no dia 6 de Maio e foi concluída no dia 21 de Agosto, tendo um total de 4:02 a canção. Foram feitas poucas adições de efeitos na música; ao final dela, sons de correntes, sinos, pássaros e grilos foram colocados para fazer a transição para a canção que vem a seguir.


Sun King
Após a transição, com diversos efeitos de natureza, se inicia a canção "Sun King". A ideia da canção venho depois que Lennon leu a biografia escrita por Nancy Mitford sobre o "Rei-Sol" Luís XIV da França, que reinou entre 1643 a 1715; que também originou um sonho que ele teve, na qual um rei entre em seu palácio e ve todo o seu sudito rindo feliz. A letra é simples e pequena, com os 3 Beatles cantando em coro harmonico, igual a "Because", só que menos trabalhada. Inicialmente, Lennon iria chamar a canção de "Her Comes The Sun King", mas para não causar confuso com a composição de Harrison, ele simplificou para "Sun King". No trecho final da canção, é cantada palavras em diversos idiomas sem nenhum significado; em ingles, espanhol, italiano, português e também palavras inventadas. Um aspecto interessante da música, que o uso de Cross-Chanel Progressive; um efeito que faz o solo de guitarra mover-se lentamente entre os canais esquerdo e direito de audio. Em uma entrevista em 1987, Harrison disse que a gravação da canção havia sido inspirada na canção "Albatross" do Fleetwood Mac. Ao final, ela tem um fim abrupto, começando com a batida da canção seguinte. Na época que a canção foi lançada, Lennon achava uma otima canção; mas anos mais tarde, ele mudaria de ideia, achando a canção um lixo. No disco e no espetaculo "Love" do Cirque du Soleil; a canção tem uma versão com novos arranjos feito por Giles Maritn (filho de George Martin) e canção é cantada invertida.




Mean Mr. Mustard
A canção foi escrita na Índia, Fevereiro de 1968, por John Lennon. Foi inspirada numa noticia bem peculiar que havia lido nojornal local; que falava sobre um homem pobre que guardava dinheiro dentro do próprio corpo (principalmente no canal do reto), para evitar ao máximo de gasta-lo. John acabou não se inspirando muito para escrever a canção, e anos depois ele definiu aquilo como "um lixo escrito num pedaço de papel na Índia". As gravações da canção se iniciaram no dia 24 de Julho e concluída no dia 21 de Agosto, tem uma duração de 1:06. Foi encontrada uma versão demo da canção, que foi lançado na coletanea "Anthology 3", onde na canção o nome da irmã de Mustard se chamaria Shirley, mas foi mudado para Pam para associar a canção seguinte. Esta canção também tem um fim bem abrupto. A explicação para isso, é que entre as canções "Mean Mr. Mustard" e " Polythene Pam", teria a canção "Her Majesty"; só que depois que Paul escutou toda aquela sequência, achou que não ficou bom e pediu para cortar a canção da fita master. Mas essa parte vou deixar para falar mais adiante, agora vamos falar da canção seguinte.


Polythene Pam
Outra composição que Lennon escrevem na Índia, e entra cortando abruptamente a canção anterior. "Polythene Pam" é uma canção que contem duas origens distintas e curiosas. A primeira diz que Lennon se inspirou num encontro que teve com um amigo poeta e sua namorada, que estava vestindo uma roupa de polietileno naquele momento; inclusive o casal também comentou que eles faziam sexo selvagem dentro de um saco de polietileno. Outra origem, seria sobre uma fã antiga dos Beatles, chamada Pat Hodgett, que costumava comer polietileno e era conhecida como Polythene Pat. A música começou a ser gravada no dia 24 de Julho e foi concluída no dia 21 de Agosto; com 39 takes e alguns overdubs feitos após os takes. Esta faixa, está conectada com a próxima faixa que vem a seguir.


She Came in Through the Bathroom Window
E sem nenhum corte feito entre as canções, começa "She Came in Thtough the Bathroom Window", composição de Paul MacCartney. Esta é a ultima canção desse medley, e uma das que mais tem versões da sua origem. A quem diga que essa canção foi inspirada num caso de uma fã ter invadido a casa de Paul, entrando pela janela de seu banheiro; essa historia também vem de um amigo de Paul (Mike Pinder, da banda The Moody Blues), que contou o mesmo caso. Ainda tem outro caso, não confirmado, de que um dia a esposa de Paul estava tentando entrar em casa, e ele não deixava, por estar muito drogado; fazendo assim, ela ter que entrar pela janela do banheiro. Sendo qual for a origem verdadeira, elas batem bem com o que diz o começo da canção: "Oh, look out! She came in through the bathroom window" (Atenção! Ela entrou através da janela do banheiro). A música teve uma pré-gravação no dia 22 de Janeiro de 1969, durante as sessões do projeto "Get Back"; essa versão pode ser ouvida no "Anthology 3". Suas gravações para o álbum, começaram no dia 24 de Julho e concluído no dia 21 de Agosto; ficando com 1:57. Nessa canção, Paul tocou guitarra e Harrison tocou baixo. Alguns dizem, que algumas partes da canção, fazem referencia a preparação para se usar heroína; Paul sempre negou essa afirmação.


Golden Slumbers
Começando o ultimo medley de canções do álbum; "Golden Slumbers" foi inscrita por Paul, inspirado no poema "Cradle Song", uma canção de ninar do dramaturgo ingles Thomas Dekker, lançado na década de XVII. Ele encontrou a partitura do poema na casa de pai, mas como não conseguia entender direito as notas nela, acabou criando sua própria melodia. McCartney usou a primeira estrofe do poema, alterando algumas palavras e adicionando uma única linha lírica repetida com pequenas variações. A música começa em um tom suave, bem apropriada para uma canção de ninar; mas assim que entram os tambores e o refrão, a canção fica mais forte e alto. A orquestra de 25 músicos e o jeito que Paul canta, dá um ar de opera a canção. O começo no piano, acaba lembrando muito a canção "The Fool on the Hill", do álbum "Magical Mystery Tour". A canção começou a ser gravada no dia 2 Julho e concluída no dia 19 de Agosto, ficando com 1:31. John Lennon não participou da gravação da canção, pelo mesmo motivo que não participou de "Here Comes The Sun", por estar se recuperando de um acidente.


Carry That Weight
Sem pausa, e com uma leve transição entre as faixas, começa "Carry That Weight"; uma composição de Paul, que volta a alfinetar a banda e o estado em que ela se encontrava. Isso pode ser percebido nos primeiros versos da canção: "Boy, you gonna carry that weight; for long time" (Rapaz, voce vai carregar esse peso; por um bom tempo). Isso pode ser interpretado, como um aviso de Paul a John, caso ele saísse da banda; ou se qualquer um deixasse de ser um membro dos Beatles. Uma reflexão sobre, como eles não seriam os mesmos, se não estivessem mais juntos, o peso de ser um Beatle. Possivelmente a genialidade deles, seria menor individualmente, do que em conjunto. Até mesmo Lennon, disse em uma entrevista, que a canção era sobre todos eles. Paul também, volta a falar da situação financeira da Apple, repetindo os primeiros versos de "You Never Give Me Your Money", só que algumas modificações. Começou a ser gravada no dia 2 de Julho e concluído no dia 19 de Agosto; ela também tem orquestra, como a canção anterior. Devido ao acidente de Lennon, ele só conseguiu gravar os backings vocals da canção. E sem pausas, viramos para a derradeira canção do medley.


The End
Composta por Paul e inicialmente com o nome de "Ending"; "The End" não apenas encerra o álbum, como também encerra a carreira dos Beatles. A gravação começou no dia 23 de Julho, e concluído no dia 18 de Agosto, ficando com 2:20. Tendo como verso inicial: "Oh Yeah! Alright! Are you gonna be in my dreams tonight?" (Você vai estar nos meus sonhos hoje a noite?). Esta foi a única canção na qual Ringo Starr faz um solo de bateria; e ainda teve que ser convencido pelos outros Beatles a fazer. A canção é composta por 3 blocos de solos de guitarras, que são revezados entre Paul, John e Harrison. Durante alguns desses solos, é dito varias vezes a frase "Love you". Ao chegar próximo do final da canção; fica apenas o piano tocado por Paul, e os versos finais que ecoam como o epitáfio da banda: "And in the end/ The love you take/ Is equal to the love you make" (E no final/ O amor que você recebe/ É igual ao amor que você dá). Tecnicamente, esta seria a ultima canção do álbum; se não fosse o caso do surgimento de uma canção escondida, surgindo após 14 segundos de silencio.


Her Majesty
Após esses 14 segundo de silencio, se inicia a verdadeira ultima faixa do disco; "Her Majesty" é uma canção que foi para no fim do álbum, por acidente. Inicialmente, a faixa estava programada para ficar entre "Mean Mr. Mustard" e "Polythene Pam" (tanto que a canção começa com o ultimo acorde de uma e emenda com o primeiro acorde da outra); mas Paul não gostou da sequência e pediu para o engenheiro de som, descartar a canção. Ela foi gravada apenas por Paul, tem um estilo dedilhado no violão tirado da canção "They're Red Hot" de Robert Johnson.; ele compos a canção após os Beatles terem recebido os títulos de Membros do Império Britânico, pela Rainha Elizabeth II. Paul havia chegado mais cedo no dia 2 de Julho de 1969, e enquanto espera os outros chegarem, pegou seu violão e gravou 3 takes da canção. A música iria servir como uma espécie de vinheta entre as duas canções citadas anteriormente; tanto que "Her Majesty" é a canção mais curta dos Beatles, tendo 23 segundos. Paul acabou não gostando daquela sequência e pediu para um dos engenheiros de som que retirasse e destruísse a gravação da canção; mas como os superiores da gravadora tinham uma norma de nunca jogar fora nada que os Beatles gravasse. Assim, o engenheiro decidiu empurrar a canção para o final da gravação master do disco; ela foi parar lá sem querer, mas Paul gostou da ideia e a manteve assim. A música nem foi creditada na época que foi lançada em vinil; só foi feito isso, quando saiu a versão em CD, muitos anos depois.

Para encerrar, deixo aqui um medley das ultimas canções, tocada por Paul McCartney em seu show.

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